quarta-feira, 21 de agosto de 2013

A ETERNIT que mata!

Ministério Público do Trabalho - MPT ingressa com ação judicial contra a Eternit S. A. requerendo sua condenação em multas e indenizações por "esconder" trabalhadores que adoeceram e morreram pela longa exposição ao amianto, assim como para responsabilizá-la em oferecer tratamento e acompanhamento adequados para ex-trabalhadores afetados pela produção de telhas e outros artefatos dessa indústria da morte.
amianto
A Eternit S.A. pode ser condenada a pagar R$ 1 bilhão por dano moral coletivo. Este é um dos principais pedidos da ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) contra a empresa, responsável pelo número de ex-trabalhadores da fábrica de Osasco (SP) que morreram ou sofrem graves doenças respiratórias e câncer de pulmão. São vítimas contaminadas por exposição prolongada ao amianto, mineral utilizado para fabricar telhas e caixas d’água.
A ação pede, ainda, em caráter de antecipação de tutela, que a Eternit assuma os procedimentos de exames e tratamentos médicos. De acordo com o MPT, a empresa manteve a planta industrial de Osasco funcionando por 52 anos, mesmo sabendo das trágicas consequências no uso do amianto e que abrangeu mais de 10 mil trabalhadores. Como se trata de um pedido de condenação em prol da coletividade, o valor de R$ 1 bilhão deverá ser destinado a instituições públicas que atuam com saúde e segurança do trabalho ou ao Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).
Numa amostra de mil ex-trabalhadores da Eternit em Osasco, avaliados pela Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Medicina e Segurança do Trabalho (Fundacentro), quase 300 adoeceram por contaminação. Destes, 90 morreram entre 2000 e 2013. Mas o número pode ser muito maior, já que a Eternit ocultou ou dificultou a ocorrência de inúmeros registros.
As placas pleurais são as doenças mais frequentemente encontradas nesses trabalhadores, associadas ou não a outras patologias relacionadas ao amianto. A asbestose, conhecida como “pulmão de pedra”, é uma dessas patologias. Progressivamente, destrói a capacidade do órgão de contrair e expandir, impedindo o paciente de respirar. Normalmente, a asbestose se manifesta décadas após a contaminação, num intervalo de 10 anos, 20 anos ou até 30 anos. Primeiro, vem uma inflamação contínua, que vai piorando com o tempo até se configurar em câncer. Não por acaso é grande o números de pessoas que adoeceram quando já não mais trabalhavam na Eternit.
Asbestose – Um dos casos descritos na ação civil pública é o do aposentado Doracy Magion, de 72 anos, que sofre de asbestose por ter trabalhado na fábrica de Osasco por 19 anos. Ele diz ter perdido a conta dos colegas de Osasco que morreram da mesma doença. Restaram apenas fotos pra colecionar. “Dentro da fábrica, o pó de amianto estava em todos os lugares. Do lado de fora, o chão era revestido com cascalho e retalhos de fibra. As pessoas pisavam ali e levavam a poeira para suas casas.”
A ação que o MPT move contra a Eternit pode desencadear no maior caso da Justiça do Trabalho no Brasil. Maior até do que o caso Shell/Basf, cujo acordo judicial ultrapassa R$ 600 milhões, dos quais cerca de R$ 400 milhões são referentes a danos morais e materiais individuais, além dos R$ 200 milhões por dano moral coletivo. As indenizações foram motivadas em consequência do desastre de uma fábrica de pesticidas da Shell/Basf em Paulínia (SP), que matou 62 trabalhadores e afetou a vida de mais de mil pessoas.
Inaugurada em agosto de 1941, a fábrica de Osasco foi desativada em 1993. A Eternit, no entanto, ainda mantém diversas fábricas em funcionamento em quase todas as regiões do país, como nas cidades de Colombo (PR), do Rio de Janeiro, de Simões Filho (BA) e em dois municípios de Goiás, Goiânia e Minaçu, onde funciona a única mina de extração de amianto em atividade do país.
Valores – Para o coordenador nacional de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho (Codemat), procurador do Trabalho Philippe Gomes Jardim, o valor da condenação não só é razoável para a dimensão dos acidentes, como também é plenamente viável de ser executado. “A Eternit lucra R$ 100 milhões em média ao ano. Explorou Osasco por cinco décadas e mantém diversas fábricas em atividade. Sem falar que a empresa não fornece adequado acompanhamento médico aos seus ex-empregados.”
É neste sentido que, além do valor por dano moral coletivo, a ação civil pública do MPT pede que a Eternit seja condenada a proceder numa série de medidas de cuidado à saúde dos ex-trabalhadores de Osasco. A primeira delas é a de que a empresa seja obrigada a promover periodicamente exames médicos de controle de todos os ex-empregados de até 30 anos após o encerramento das suas atividades, sob pena de multa de R$ 50 mil por descumprimento em relação a cada ex-empregado.
O segundo pedido da ação é que a Eternit amplie o rol de exames médicos de controle de todos os ex-empregados, a exemplo de neoplasia maligna do estômago e da laringe e mesotelioma de peritônio e pericárdio. A multa também é de R$ 50 mil por descumprimento para cada ex-empregado.
Divulgação – O MPT também pede que a empresa custeie despesas com assistência integral de atendimentos, procedimentos médicos, nutricionais, psicológicos, fisioterapêuticos, terapêuticos, internações e medicamentos para todos os ex-empregados que não estejam inscritos a um plano de saúde. O não cumprimento desta medida vai gerar uma multa bem maior, de R$ 500 mil por descumprimento para cada ex-empregado.
O quarto pedido de condenação é que a Eternit divulgue em emissoras de TV de maior audiência em horário nobre e nos jornais impressos de maior circulação a convocação para realizar exames médicos por um período de 30 anos. A ação discrimina as especificações quanto a tempo de inserção e o espaço de anúncio. O não cumprimento da medida vai gerar multa de R$ 100 mil por dia de atraso, com relação a anúncio em TV, e de mais R$ 100 mil com relação a jornais impressos. A divulgação deve relacionar que se trata de condenação judicial em ação civil pública ajuizada pelo MPT contra a Eternit.
A Eternit ainda pode ser condenada a custear as despesas de deslocamento e hospedagem de todos os ex-empregados que residem a mais de 100 km do local dos serviços médicos, sob pena de multa R$ 50 mil por descumprimento por ex-empregado.
Execução – O descaso da Eternit com relação ao tratamento dos empregados e na ocultação de dados é motivo de outra ação do MPT. Trata-se da ação de execução pelo descumprimento do termo de ajustamento de conduta que a empresa assinou em março de 2009, com o compromisso de emitir comunicado de acidente de trabalho (CAT) de todos os ex-empregados com suspeita ou diagnóstico de doença de trabalho relacionada ao amianto.
O MPT reuniu na ação de execução dez casos comprovados judicialmente como amostragem de que a Eternit estava descumprindo o acordo e requer que seja condenada a pagar R$ 1,6 milhão. O texto da ação relata casos de trabalhadores que sofreram abusos da empresa com relação a seus direitos, a exemplo do servente e pintor Nelson de Oliveira, que trabalhou de 1970 a 1992, isto é, exposto ao amianto por 22 anos.
Na UTI – Contaminado, Nelson adquiriu mesotelioma, uma forma rara de tumor maligno por causa do amianto e morreu no dia 5 de março de 2005. O texto da ação de execução cita dados de uma reportagem de revista de circulação nacional sobre o caso, destacando que um mês antes de sua morte dois representantes da Eternit e o funcionário de um cartório fecharam acordo com Nelson no leito da UTI.
Em situação quase terminal de saúde e a família em situação de desespero, o trabalhador assinou acordo extrajudicial no valor de R$ 24,4 mil, pois a Eternit condicionou o tratamento médico à assinatura do acordo, datado de 4 de fevereiro de 2005. Além disso, Nelson teria de renunciar a qualquer outro tipo de direito e a homologação judicial coube unilateralmente à Eternit.
A 3ª Vara do Trabalho de Osasco declarou nulo o acordo e condenou a Eternit a pagar R$ 360 mil por danos materiais e morais. Mas a Eternit nunca emitiu comunicado de acidente de trabalho no caso do pintor Nelson de Oliveira, assim como não o fez com centenas de outros casos.
Julgamento – A ação civil pública e a ação de execução são resultados do grupo de trabalho especial sobre amianto, criado pelo MPT em junho de 2013 para enfrentar a gravidade e a complexidade do tema. O grupo é composto pelos procuradores do Trabalho Philippe Gomes Jardim, Luciano Leivas, Juliana Massarente, Rodrigo Rafael de Alencar e o médico Marcos de Oliveira Sabino.
A ação tramita na 9ª Vara do Trabalho de São Paulo e ainda não há previsão sobre o julgamento do dano moral coletivo no valor de R$ 1 bilhão. Quanto aos demais pedidos da ação civil pública, no entanto, a expectativa é de que a justiça ordene a Eternit a assumir todo o tratamento médico já nas próximas semanas.

Informações: Ministério Público do Trabalho
Fonte: EcoDebate, 20/08/2013

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Chico das Verduras e a Reforma Política

Em 2010, o Chico das Verduras foi eleito Deputado Federal pelo PRP de Roraima, com 5.903 votos, a menor votação nacional naquele ano. O quociente eleitoral no Rio de Janeiro daquelas eleições, isto é, o número absoluto de votos que uma legenda tem que ter para ocupar uma vaga, era de 184 mil votos. Ou seja, cada fração de 184 mil votos de um partido fazia um deputado federal. A grande parte deles faz barbaridades em seus mandatos e não representam a vontade sequer de seus eleitores, quanto mais dos cidadãos de seus Estados.
Como bem me lembrou meu amigo Flávio Mutley, para a criação de um novo partido é necessário recolher 500 mil assinaturas de apoio.
Mas quando a sociedade quer participar diretamente, com projeto de lei de iniciativa popular, tem que juntar um milhão e quatrocentas mil assinaturas???
Mas por que? Essa matemática não está correta:

Chico das Verduras - 5.903 votos (pode propor quantas besteiras quiser)
Quociente Eleitoral/RJ-2010 - 184 mil votos

Criação de Partido Político - 500 mil apoios de eleitores
Projeto de Iniciativa Popular - 1,4 milhões de apoios de eleitores


Isso está errado! A sociedade quer participar mais e tem direito de fazê-lo com equidade em relação aos votos parlamentares. Então, na minha opinião, se para eleger um deputado em números totais foram necessários 184 mil votos, o número de cidadãos em apoio aos projetos de lei de iniciativa popular têm que estar relacionado a esse número. Não pode ser quase dez vezes mais! Reforma Política Já!!!

Padrão FIFA pra quem?

Escolas e Hospitais no Padrão FIFA?
Vi vários cartazes pedindo escolas e hospitais no padrão FIFA nas manifestações.
Mas, peraí, a FIFA não é um antro de corruptos, que espolia os orçamentos dos países que sediam copas (O Brasil cedeu generosos R$ 500 milhões - aproximadamente - em "incentivos fiscais" para a FIFA)? A FIFA não é a organização que estabelece inúmeras exigências que beneficiam grandes corporações da construção civil, que ganham riso de dinheiro construindo estruturas que se tornarão inúteis depois da copa (como estádios gigantes em Mato Grosso)? A FIFA não é aquela organização que lucra milhões, ou seriam bilhões, com a realização dos eventos em todo o mundo?
Então, que história é essa de padrão FIFA?
Eu quero escolas e hospitais de padrão honesto, que possuam estruturas que ofereçam dignidade para alunos e pacientes, com bons salários e condições de trabalho para médicos e professores. Simples assim!
Não quero NADA que seja do padrão FIFA!
Sai fora, Fifa!

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Dificuldades em Responder

Estou tentando responder e comentar as postagens dos leitores e amigos, mas - por incrível que pareça, eu consigo postar artigos, mas não estou conseguindo comentar sobre o que escreveram aqui. Me desculpem, é um pouco de ignorância minha. Estou trabalhando para melhorar o serviço!

Saudações e até a caminhada,

O Movimento Acabou? Pra mim, não. Agora eu quero Plebiscito!

Manifestação em Brasília, em foto extraída da funpage Geração Invencível.

Não parei de pensar sobre nossas manifestações! Entre minha ida e volta a Paraty para uma reunião do Conselho Gestor da APA de Cairuçu, nesta quarta-feira, tomei contato com algumas poucas informações sobre novos protestos e pude ler alguns gentis e emocionados comentários do texto anterior. Pois bem, quando parei numa lanchonete da BR 101 no caminho de volta, tive a oportunidade de ver a manifestação de Niterói, o fechamento das duas faixas da Ponte Rio-Niterói e algumas outras mobilizações - como uma em São Paulo que teve seu início às 8hs da manhã. É, isso mesmo... saíram em passeata pela Avenida M Boi Mirim às 8 horas da manhã. Alguém já viu disso antes?

Mas o que mais me surpreendeu foi assistir ao Haddad reunido com o Alckmin para anunciar o cancelamento do aumento das passagens, dizendo em coro que isso poderia significar cortes na saúde e na educação. Não foi mágica a cena dos governantes do PT e PSDB juntos, com o rabo entre as pernas? Eles já estavam juntos condenando o movimento e defendendo o uso das forças de repressão contra ele - com respaldo do Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que oferecia a Força Nacional de Segurança para apoiar a repressão. Depois, estiveram juntos no jeito categórico de afirmar que era impossível abaixar as tarifas. E hoje, vejam só, mansinhos, mansinhos...

Mas a cara de pau não muda! Ora bolas, pro inferno com essa história de que vai ter que tirar da saúde e da educação pra dar pra esses inescrupulosos que transportam a população como boi, como sardinha. E ainda tem a indecência de jogar a culpa na população, tipo dizendo: "Taí, queriam desconto de ônibus, então vou deixar mais gente ainda morrer nos hospitais e mais analfabeto perambulando pelos sinais". Se vocês quiserem saber a opinião da massa de onde tirar, eu pelo menos sei dar umas dicas: extingue umas secretarias e uns cargos comissionados, acho que já dá pra chegar lá. Fica no zero a zero. Mas se eu acreditasse que eles estão lá pra governar pra população, eu sugeriria: faz uma auditoria no sistema de transportes. Eles não podem estar tão apertados de grana assim, haja vista que são os maiores financiadores de campanha e um dos maiores premiados com isenção de impostos. Aqui no Rio, por exemplo, eles tiveram um grande sinal de generosidade da Câmara Municipal há uns três anos atrás: tiveram uma redução que jogou para 0,001 o ISS sobre os ônibus da Cidade. Foi muito antes desse último aumento das tarifas. Já o nosso Imposto de Renda, nunca vi baixar assim.

Foto retirada da funpage Geração Invencível
Aqui no Rio também vi o prefeito sorriso anunciar o cancelamento do aumento abusivo. E o Cabral mandou avisar que vai lá também... Vai baixar barcas, trens e metrôs. Quer dizer, metrô - porque aqui a gente tem só um linhão com uma divisória. O Cabral eu acho que nem quis ir anunciar, porque foi tão ridícula a fala dele na semana passada que ele deve ter tido o bom senso de dar um tempinho. Lembram que ele falou que as manifestações pareciam ter motivações políticas e que não eram espontâneas. Talvez ele pense que as motivações devam ser apenas econômicas - como foram na passeata chapa branca que ele convocou para manter os royalties, e que espontaneidade seja como o encerramento do expediente dos servidores do Estado para que possam caminhar com ele pela Rio Branco. E o Paes, que ontem disse estar disposto a ouvir as reivindicações dos manifestantes em audiência com ele, tomou pito das lideranças: - "Peraí, Sr. Prefeito! O senhor não ouviu o que foi dito em alto e bom som???" Deveria ouvir tudo que foi falado, as propostas e os adjetivos que o povo atribuiu a ele. Bem, resolveu revogar o aumento também.

Agora, os Movimentos vão parar!

Será que eles esperam que as manifestações parem agora? Queriam reduzir as passagens, pronto. Está aí. Agora, se despeçam e voltem cada um pra sua casa. A brincadeira acabou e vamos continuar a governar nossas cidades e estados e esse nosso Brasil varonil. Será que pensam isso?

Eu acho que não pensam, mas querem. Desejam muito isso e já começaram a se articular para diminuir as mobilizações. Primeiro sinal notório: até antes dessa onda de manifestações, a polarização política no país se mantinha com o PT e PSDB. Eles dominam dois blocos hegemônicos que ocupam e disputam o comando do país há 20 anos, emergidos exatamente após o Impeachment do Collor. De lá pra cá dividiram o poder e mantiveram intactos os processos de crescimento e acumulação do capital no Brasil, numa economia de mercado com algumas variações nas políticas sociais, mas com o mesmo sistema político institucional. Depois desses 20 anos, temos como aliados o Lula, o Collor, Sarney, Renan Calheiros... O Lindberg às gargalhadas com o Collor... dentre outras cenas impensadas há duas décadas.

Mas hoje, não. Hoje foi o PT com o PSDB. Se uniram porque sabem que a crescimento dessa onda ameaça seus domínios sobre as estruturas de governo. Superaram suas divergências e estão unidos para derrotar as mobilizações do Outono Brasileiro! Estamos no Outono?

Outro ator importante do poder que já construiu sua estratégia para esvaziar as mobilizações foi a Rede Globo. Quando ela chamava os manifestantes de vândalos e baderneiros, tentava estampar esse rótulo para desmobilizar a sociedade, para que as pessoas de bem não se enxergassem como parte daquilo. É uma sutil forma de manipular a subjetividade social, através da rotulação e da desfiguração. Algo que não produzisse identidades entre os trabalhadores e cidadãos deste novo milênio. Não conseguiu! A indignação e a consciência de quem vem sendo enganado pelas grandes campanhas de marketing, poderosas propagandas vendendo modos de viver e variados merchandisings, foi mais forte. Então, agora a estratégia é outra. É dar cara, nome e CNPJ para o movimento.

A estudante Mayara Vivian, em foto extraída do site G1.
Escolheram a jovem Mayara Vivian, de São Paulo. Pelo pouco que vi, passou boa impressão. É articulada, inteligente e se expressa bem. Todas as qualidades de um bom líder. Então, acho que pode cumprir um bom papel. Mas como todo ser humano, a Mayara é falível, como cada um de nós individualmente. Ela tem ideias próprias, tem propostas próprias e tem sua forma de ver as coisas. Que pode ser parecida, mas não é a mesma que a minha. E aí já estou começando a encontrar leituras rotulando a Mayara, dizendo que já viram isso, que ela é uma nova anarquista utópica - contaminada por velhas ideias que não levarão a nada. Aí, cada um de nós vai olhar pra ela e pensar: - "Bem, não concordo com tudo que essa menina fala". E daí pra esvaziar as mobilizações, é um passo. É claro, porque a gente vai pras ruas e na hora de falar, vai lá e entrevistam a Mayara... Bem, eu gostei de ver a Mayara, mas eu não quero que ela fale por mim. Esse é o modelo que está aí: um monte de vagabundo dizendo que fala em nome do povo. Que povo, cara pálida?

Esse é o meio mais eficiente de acabar com o Outono Brasileiro - como alguns usam para comparar com a Primavera Árabe. A personalização das manifestações vai contagiá-la e fazê-la perder força. Eles temem isso que está sendo assim, sem porta-vozes, sem representantes, sem pautas... As pessoas querem reclamar, porra! Mas não é só isso. E por não ser só isso que eles precisam acabar com tudo rápido. Por essa causa, PT e PSDB se unem, Cabral e Paes abaixam suas arrogâncias olímpicas e seus acordos com a máfia do transporte. Eles apostarão todas as fichas nisso. Senão, imagina na Copa?

Democracia e Enganação

Bom, o discurso oficial agora será de que atenderam ao pleito do movimento. Afinal, não é por 20 centavos, mas foram eles que tilintaram nas nossas consciências. O que nos une agora, as propostas da Mayara, do PSOL e do PSTU, ou aquelas milhares de outras escritas por cada um de nós nos cartazes que levamos pras ruas??? Eis a questão, de onde vai brotar essa resposta?

De várias formas elas já estão nas redes, como comentei no artigo anterior. Assinamos essas propostas o tempo todo e sempre trazemos mais. Estamos aprendendo a construir agendas, movimentos e ideias de forma remota. Cada qual com seu canal! Foi assim que surgiu esse movimento.

Bem, mas como fica isso, vão perguntar. Eu não sei ao certo, mas sei que vou continuar a ir pras ruas. Eu tenho motivos de sobra e sempre que convocarem, estarei lá prestando minha contribuição às causas. Mas e os agentes do Estado Democrático de Direito? Os vereadores, deputados, senadores, prefeitos, governadores, os juízes e desembargadores... Como esses detentores do poder podem recepcionar as causas do movimento? É certo que vários irão agora procurar a Mayara para saberem o que a gente quer. Bem, a Mayara é preparada e sabe o que ela e o grupo que ela lidera querem. Mas eu não cheguei a falar pra ela o que eu quero e pelo que eu luto. E eu sou desse movimento. Eu e um montão! Como a gente faz, então?

Eu pensei nisso. E eu tive uma luz. Não é pra iluminar ninguém, mas clareou minhas ideias. Eu não quero essa democracia de merda - que a gente dá carta branca pra outros falarem por nós. Eu tô fora! Eu quero participar diretamente e se não tiverem meios, eu fico gritando nas ruas. Eu quero é que minha voz seja escutada. Não quero sobressair, mas quero ser ouvido. E eu não acredito mais nesses processos tradicionais - que a gente tem que ficar falando com máquinas no telefone pra poder sugerir, reclamar ou se informar. Máquina é o escambau. Ou sou gente, quero dialogar com gente.

Então, vou dizer: eu quero Plebiscitos! Não quero só um, não. Eu quero vários plebiscitos. Eu não quero mais delegar assuntos tão estratégicos do meu País para essa canalhada que se mancomunou nas estruturas de poder. Eu quero discutir e votar o sistema de concessões de transportes da minha cidade. Eu quero discutir e votar as grandes obras estratégicas na minha cidade. Eu quero discutir e votar sobre as regras de proteção das florestas brasileiras. Quero discutir e votar sobre a Legalização da Maconha, sobre a regulamentação do aborto. Eu cansei de assistir desolado o Congresso Nacional promover as maiores vergonhas nacionais e votar assuntos que refletem na minha vida, no meu trabalho e na minha felicidade sem considerar absolutamente nada do que eu penso. Agora, eu quero votar também. Eu quero Plebiscito!!!

Eu quero Recall nas eleições para os Executivos. Eu abro mão de votar em candidatos de dois em dois anos. Isso já tá enchendo. Bota tudo no mesmo ano e nos outros três anos, vamos encher de plebiscitos. Mas não com voto obrigatório. Vai votar quem quiser, quem não fizer questão, assiste ao Faustão. É capaz que digam que isso é caro, que teriam que tirar dinheiro da saúde e educação. Tudo bem. Eu penso que pode acabar com o Senado. Pra que serve o Senado? Ah, é que nosso sistema é bicameral e coisa e tal. Tá bom, eu abro mão do bicameral. Deixa lá só a Câmara dos Deputados. Mas por mim, pode diminuir os atuais 513 deputados para uns 300. Esse número já é bem representativo. Afinal, está provado nos parlamentos de todo o Brasil que quantidade não tem absolutamente nenhuma ligação com qualidade.

Então, vamos lá. Segundo o Transparência Brasil, cada senador custa anualmente R$ 33 milhões. Como são  81 cadeiras, esse valor total é de R$ 2,7 bilhões anuais. De acordo com a mesma fonte, um deputado federal custa R$ 6,6 milhões/anos. Se cortarmos 213, teremos uma economia anual média de R$ 1,4 bilhões. Ao todo, só essa mexidinha geraria economia anual de mais de R$ 4 bilhões. Usa-se uma parte para gastar com plebiscitos e o excesso para melhorar a saúde e a educação!

Bom, eu sei que isso é utopia! Mas eu acredito que é um bom caminho, porque eu também sei que o Senado não fará falta nenhuma pra mim. Se fizer pra alguém, eu respeito a opinião. Mas a minha é que o Senado não faz falta e que os 213 deputados também não diminuirão minha representatividade na Câmara Federal. Eu quero mudar essa velha República, eu quero um novo país. E quem não chegou a pensar que era utopia baixarem as passagens? E baixaram muito rápido, pras coisas se acalmarem. Mas eu não acalmei.

O Plebiscito existe na Constituição Federal, mas a canalhada do poder não quer usar. Eles agora fingem que reconhecem o movimento, que atendem suas reivindicações, que legitimam suas lideranças, mas eles estão entregando apenas os anéis, pra manter seus grandes e musculosos dedos na condução dos tortos e tortuosos rumos das nossas cidades, estados, do País, do nosso dinheiro e das nossas vidas!

E eu, não quero mais isso. Eu quero é mais!