Só não VALE fazer circo com os investimentos do Patrão. Governo é
enquadrado e joga a toalha com relação à Tragédia de Mariana. A terceira maior
financiadora das eleições de 2014 mostra quem manda nesse país e dita as regras
para os processos de reparação socioambiental.
E nessa quarta-feira (02/03), a
Presidenta Dilma e seus ministros firmaram acordo com a VALE e a transnacional BHP
para juntos, Governo e donas da SAMARCO, tirarem uma foto muito bem trabalhada
no mais habilidoso estilo photoshop,
para maquiar suas imagens diante do acidente de Mariana.
A Dilma, o Governador Pimentel
(PT/MG) e a VALE são velhos parceiros políticos. Estão juntos há um bom tempo.
Mas a parceria é bem mais ampla, envolvendo também o ex-Governador mineiro,
Aécio Neves (PSDB), o Presidente da Câmara, Eduardo Cunha e grande parte de seu
PMDB. Então, não se trata de ser o PT a bola da vez. A verdade é que entre
governo e oposição, há mais em comum do que os jogos de cena política nos fazem
perceber: a dona da bola, na verdade, é a VALE. Ela é quem governa o país.
Senão, vejamos: ela tem nas mãos
a Presidência da República – seja PT, PMDB ou PSDB, o Governo de Minas – seja Pimentel
ou Aécio, ela tem Eduardo Cunha e ela tem os órgãos de fiscalização mineral.
No acordo de hoje, com a presença
do Advogado Geral da União, do Ministro de Minas e Energia e da Ministra do
Meio Ambiente, a Presidenta Dilma anunciou que será criada uma fundação – que será
comandada pela VALE para administrar os recursos que a VALE se dispôs a
utilizar para pagar essa gente que reclama que perdeu tudo e pra fazer umas
obras de engenharia naquele rio afogado em lama.
Afinal é isso: essa gente que há
quatro meses reclama da vida e fica ganhando espaço na mídia e essa bosta de
rio doce, que amarga a saliva engolida pelos empresários da mineração – que tanta
contribuição trazem para esse nosso país atrasado.
O festejado acordo envolve
investimentos na ordem de R$ 4,4 bilhões até 2018. A fundação da VALE irá,
então, abrir uma fila para quem quiser reclamar e provar que sofreu prejuízos.
Avaliará as provas para saber se são convincentes. Mas que provas, se todos os
bens materiais das pessoas foram levados pela avalanche da negligência empresarial/governamental?
Bem, aí já não é problema da VALE. É cada um por si. Provadas as perdas, a VALE
arbitrará o valor a indenizar!
Isso parece absurdo? Não!
A VALE foi comprada a preço de
bananas no Governo FHC. Em 1997, em meio à Privataria Tucana, a antiga Vale do
Rio Doce foi “vendida” por R$ 3,3 bilhões. Isso mesmo! Essa gigante da
mineração era à época a 2ª maior do mundo, com um complexo de mais de 50
empresas associadas. E foi vendida por um preço menor do que o acordado com o
Governo Dilma para reparar os danos causados na tragédia de Mariana.
Ou seja, tanto FHC quanto Dilma
governaram para beneficiar à VALE, que é quem pagou suas campanhas.
A VALE foi a terceira maior
doadora de campanhas eleitorais em 2014, perdendo apenas para a JBS (dona da
Friboi) e a OAS (campeã da Lava-Jato). Para Dilma (PT), a VALE doou R$ 12
milhões. Para Aécio (PSDB), R$ 2,7 milhões. Doou também para Eduardo Cunha
(PMDB) a bagatela de R$ 1,7 milhões, assim como financiou a campanha vitoriosa para
o Governo de Minas Gerais, de Fernando Pimentel (PT), de seu adversário, Pimenta
da Veiga (PSDB), e de seu antecessor, o ex-Governador Antônio Anastasia. Ou
seja, mudam as moscas, mas a merda é a mesma!
Em 2014, a VALE pagou R$ 23.550.000
ao PMDB, R$ 8.250.000 ao PT, R$ 6.960.000 ao PSDB, R$ 3.500.000 ao PSB (Viva o
Socialismo!), R$ 1.500.000 ao PP (É sigla de Propina?) e, sem falsas
pasmaceiras, R$ 1.500.000 ao PCdoB (que inventou o comunismo
ruralista-mineral!). Os dados estão na insuspeita Carta Capital (http://www.cartacapital.com.br/sociedade/quanto-candidatos-e-partidos-recebem-da-vale-6889.html),
retirados das fontes oficiais de controle das doações de campanha.
Isso explica porque nenhuma
autoridade se apressou em repudiar a negligência que resultou na maior tragédia
mineral-ambiental da história do país. Pelo contrário: lembram da posição do
Governo Petista de Minas no dia seguinte da tragédia? Afirmou, na Federação das
Indústrias, que a Samarco era vítima do acidente e que o licenciamento
ambiental não devia ficar nas mãos do Estado, mas do próprio setor privado (http://www.hojeemdia.com.br/horizontes/secretario-de-estado-classifica-a-samarco-como-vitima-do-rompimento-1.357974).
Os dias se passavam e não aparecia uma única autoridade federal da área
ambiental para dimensionar os danos socioambientais e as dimensões da tragédia,
mas o discurso oficial era unânime em afirmar que os rejeitos eram inertes e
não continham nenhum tipo de metais pesados – o que veio a ser firmemente
desmentido por profissionais ligados a distintas universidades federais e
estaduais.
Os dirigentes da VALE e da BHP
não precisaram se desgastar oferecendo desculpas esfarrapadas. Os governantes
(PT, PMDB, PP e PCdoB) cumpriram esse papel e os opositores (PSDB, PSB, etc) contribuíram
silenciando-se. E mais recentemente, a imprensa veiculou propaganda em todas as
emissoras de TV na qual funcionários da SAMARCO e moradores de Mariana faziam
falas como se a área afetada fosse um condomínio de luxo no interior de uma
espécie de reserva ecológica! Está tudo em ordem no reino mineral!
Diante da mais patética submissão
(o erro de digitação me levou a escrever “petética submissão” – será mesmo um
erro?) já vista antes na história desse
país, o Governo Federal, depois de meses do acidente, fez firula típica de
adolescente rebelde contra o pai que o sustenta, e anunciou que aplicaria
obrigação no montante de R$ 20 bilhões para a reparação dos danos ao meio
ambiente e às pessoas que viviam em Mariana.
O patrão não gostou. Chamou todo
mundo e determinou que parassem com o circo. E todo mundo entendeu o recado!
O PMDB, que levou a maior fatia
dos pagamentos da VALE, tem o Ministério das Minas e Energias, com Eduardo
Braga à frente. O Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM, órgão de
controle das atividades de mineração no país, é comandado pelo partido. E a
comissão parlamentar que elabora o Novo Marco Regulatório da Mineração, do
Congresso Nacional, é integralmente dominada pelos parlamentares financiados
pela VALE.
Então, quando o governo assina “acordo”
para que a VALE crie uma fundação e administre os conflitos gerados por ela na
tragédia de Mariana, ele está fazendo o mesmo que fez com as hidrelétricas de
Belo Monte, de Santo Antônio e Girau, nas Usinas Nucleares de Angra dos Reis e
que começa a fazer para mais 12 hidrelétricas da Amazônia, como a de Tapajós e
a de Trombetas – em terras quilombolas e indígenas que visitei em Oriximiná, no
Pará. Foi lá que me indignei em ter que tirar “passaporte” para entrar no
Distrito de Porto Trombetas, fração do território nacional onde somente podemos
entrar com autorização da Mineradora Rio do Norte – gigante da extração da
bauxita de propriedade dessa duplinha do barulho: VALE e BHP.
Então, os iludidos podem pensar
que tirando a Dilma, as coisas irão mudar. Mas aí vem o Aécio, que é tão
funcionário da VALE quanto a Dilma. E o PMDB? Bem, o PMDB está com o PT e
estará com o PSDB, caso ele venha a governar. Afinal, ele é o fiel da balança
para a garantia da governabilidade. E a VALE sabe disso e por esse motivo é que
ele recebe sempre a maior fatia dos pagamentos pelos serviços prestados.
E no dia que o patrão colocou o Governo
Federal pra anunciar o festejado acordo em torno da tragédia de Mariana, as
ações da VALE subiram 10%. Afinal, o Mercado arrotou confiança depois de
mastigar mais uma fatia da dignidade brasileira, mostrando quem manda nessa
porra!
Resumo da história: Mariana foi
afogada na lama, a natureza agonizou metalizada, os moradores tiveram suas vidas
pregressas apagadas. Mas a propaganda e o marketing produzem felicidade geral e
o patrão ainda engorda o capital!