quinta-feira, 3 de março de 2016

VALE... VALE TUDO!

Só não VALE fazer circo com os investimentos do Patrão. Governo é enquadrado e joga a toalha com relação à Tragédia de Mariana. A terceira maior financiadora das eleições de 2014 mostra quem manda nesse país e dita as regras para os processos de reparação socioambiental.


E nessa quarta-feira (02/03), a Presidenta Dilma e seus ministros firmaram acordo com a VALE e a transnacional BHP para juntos, Governo e donas da SAMARCO, tirarem uma foto muito bem trabalhada no mais habilidoso estilo photoshop, para maquiar suas imagens diante do acidente de Mariana.
A Dilma, o Governador Pimentel (PT/MG) e a VALE são velhos parceiros políticos. Estão juntos há um bom tempo. Mas a parceria é bem mais ampla, envolvendo também o ex-Governador mineiro, Aécio Neves (PSDB), o Presidente da Câmara, Eduardo Cunha e grande parte de seu PMDB. Então, não se trata de ser o PT a bola da vez. A verdade é que entre governo e oposição, há mais em comum do que os jogos de cena política nos fazem perceber: a dona da bola, na verdade, é a VALE. Ela é quem governa o país.
Senão, vejamos: ela tem nas mãos a Presidência da República – seja PT, PMDB ou PSDB, o Governo de Minas – seja Pimentel ou Aécio, ela tem Eduardo Cunha e ela tem os órgãos de fiscalização mineral.
No acordo de hoje, com a presença do Advogado Geral da União, do Ministro de Minas e Energia e da Ministra do Meio Ambiente, a Presidenta Dilma anunciou que será criada uma fundação – que será comandada pela VALE para administrar os recursos que a VALE se dispôs a utilizar para pagar essa gente que reclama que perdeu tudo e pra fazer umas obras de engenharia naquele rio afogado em lama.
Afinal é isso: essa gente que há quatro meses reclama da vida e fica ganhando espaço na mídia e essa bosta de rio doce, que amarga a saliva engolida pelos empresários da mineração – que tanta contribuição trazem para esse nosso país atrasado.
O festejado acordo envolve investimentos na ordem de R$ 4,4 bilhões até 2018. A fundação da VALE irá, então, abrir uma fila para quem quiser reclamar e provar que sofreu prejuízos. Avaliará as provas para saber se são convincentes. Mas que provas, se todos os bens materiais das pessoas foram levados pela avalanche da negligência empresarial/governamental? Bem, aí já não é problema da VALE. É cada um por si. Provadas as perdas, a VALE arbitrará o valor a indenizar!
Isso parece absurdo? Não!
A VALE foi comprada a preço de bananas no Governo FHC. Em 1997, em meio à Privataria Tucana, a antiga Vale do Rio Doce foi “vendida” por R$ 3,3 bilhões. Isso mesmo! Essa gigante da mineração era à época a 2ª maior do mundo, com um complexo de mais de 50 empresas associadas. E foi vendida por um preço menor do que o acordado com o Governo Dilma para reparar os danos causados na tragédia de Mariana.
Ou seja, tanto FHC quanto Dilma governaram para beneficiar à VALE, que é quem pagou suas campanhas.
A VALE foi a terceira maior doadora de campanhas eleitorais em 2014, perdendo apenas para a JBS (dona da Friboi) e a OAS (campeã da Lava-Jato). Para Dilma (PT), a VALE doou R$ 12 milhões. Para Aécio (PSDB), R$ 2,7 milhões. Doou também para Eduardo Cunha (PMDB) a bagatela de R$ 1,7 milhões, assim como financiou a campanha vitoriosa para o Governo de Minas Gerais, de Fernando Pimentel (PT), de seu adversário, Pimenta da Veiga (PSDB), e de seu antecessor, o ex-Governador Antônio Anastasia. Ou seja, mudam as moscas, mas a merda é a mesma!
Em 2014, a VALE pagou R$ 23.550.000 ao PMDB, R$ 8.250.000 ao PT, R$ 6.960.000 ao PSDB, R$ 3.500.000 ao PSB (Viva o Socialismo!), R$ 1.500.000 ao PP (É sigla de Propina?) e, sem falsas pasmaceiras, R$ 1.500.000 ao PCdoB (que inventou o comunismo ruralista-mineral!). Os dados estão na insuspeita Carta Capital (http://www.cartacapital.com.br/sociedade/quanto-candidatos-e-partidos-recebem-da-vale-6889.html), retirados das fontes oficiais de controle das doações de campanha.
Isso explica porque nenhuma autoridade se apressou em repudiar a negligência que resultou na maior tragédia mineral-ambiental da história do país. Pelo contrário: lembram da posição do Governo Petista de Minas no dia seguinte da tragédia? Afirmou, na Federação das Indústrias, que a Samarco era vítima do acidente e que o licenciamento ambiental não devia ficar nas mãos do Estado, mas do próprio setor privado (http://www.hojeemdia.com.br/horizontes/secretario-de-estado-classifica-a-samarco-como-vitima-do-rompimento-1.357974). Os dias se passavam e não aparecia uma única autoridade federal da área ambiental para dimensionar os danos socioambientais e as dimensões da tragédia, mas o discurso oficial era unânime em afirmar que os rejeitos eram inertes e não continham nenhum tipo de metais pesados – o que veio a ser firmemente desmentido por profissionais ligados a distintas universidades federais e estaduais.
Os dirigentes da VALE e da BHP não precisaram se desgastar oferecendo desculpas esfarrapadas. Os governantes (PT, PMDB, PP e PCdoB) cumpriram esse papel e os opositores (PSDB, PSB, etc) contribuíram silenciando-se. E mais recentemente, a imprensa veiculou propaganda em todas as emissoras de TV na qual funcionários da SAMARCO e moradores de Mariana faziam falas como se a área afetada fosse um condomínio de luxo no interior de uma espécie de reserva ecológica! Está tudo em ordem no reino mineral!
Diante da mais patética submissão (o erro de digitação me levou a escrever “petética submissão” – será mesmo um erro?) já vista antes na história desse país, o Governo Federal, depois de meses do acidente, fez firula típica de adolescente rebelde contra o pai que o sustenta, e anunciou que aplicaria obrigação no montante de R$ 20 bilhões para a reparação dos danos ao meio ambiente e às pessoas que viviam em Mariana.
O patrão não gostou. Chamou todo mundo e determinou que parassem com o circo. E todo mundo entendeu o recado!
O PMDB, que levou a maior fatia dos pagamentos da VALE, tem o Ministério das Minas e Energias, com Eduardo Braga à frente. O Departamento Nacional de Produção Mineral – DNPM, órgão de controle das atividades de mineração no país, é comandado pelo partido. E a comissão parlamentar que elabora o Novo Marco Regulatório da Mineração, do Congresso Nacional, é integralmente dominada pelos parlamentares financiados pela VALE.
Então, quando o governo assina “acordo” para que a VALE crie uma fundação e administre os conflitos gerados por ela na tragédia de Mariana, ele está fazendo o mesmo que fez com as hidrelétricas de Belo Monte, de Santo Antônio e Girau, nas Usinas Nucleares de Angra dos Reis e que começa a fazer para mais 12 hidrelétricas da Amazônia, como a de Tapajós e a de Trombetas – em terras quilombolas e indígenas que visitei em Oriximiná, no Pará. Foi lá que me indignei em ter que tirar “passaporte” para entrar no Distrito de Porto Trombetas, fração do território nacional onde somente podemos entrar com autorização da Mineradora Rio do Norte – gigante da extração da bauxita de propriedade dessa duplinha do barulho: VALE e BHP.
Então, os iludidos podem pensar que tirando a Dilma, as coisas irão mudar. Mas aí vem o Aécio, que é tão funcionário da VALE quanto a Dilma. E o PMDB? Bem, o PMDB está com o PT e estará com o PSDB, caso ele venha a governar. Afinal, ele é o fiel da balança para a garantia da governabilidade. E a VALE sabe disso e por esse motivo é que ele recebe sempre a maior fatia dos pagamentos pelos serviços prestados.
E no dia que o patrão colocou o Governo Federal pra anunciar o festejado acordo em torno da tragédia de Mariana, as ações da VALE subiram 10%. Afinal, o Mercado arrotou confiança depois de mastigar mais uma fatia da dignidade brasileira, mostrando quem manda nessa porra!

Resumo da história: Mariana foi afogada na lama, a natureza agonizou metalizada, os moradores tiveram suas vidas pregressas apagadas. Mas a propaganda e o marketing produzem felicidade geral e o patrão ainda engorda o capital!