quarta-feira, 26 de junho de 2013

Chico das Verduras e a Reforma Política

Em 2010, o Chico das Verduras foi eleito Deputado Federal pelo PRP de Roraima, com 5.903 votos, a menor votação nacional naquele ano. O quociente eleitoral no Rio de Janeiro daquelas eleições, isto é, o número absoluto de votos que uma legenda tem que ter para ocupar uma vaga, era de 184 mil votos. Ou seja, cada fração de 184 mil votos de um partido fazia um deputado federal. A grande parte deles faz barbaridades em seus mandatos e não representam a vontade sequer de seus eleitores, quanto mais dos cidadãos de seus Estados.
Como bem me lembrou meu amigo Flávio Mutley, para a criação de um novo partido é necessário recolher 500 mil assinaturas de apoio.
Mas quando a sociedade quer participar diretamente, com projeto de lei de iniciativa popular, tem que juntar um milhão e quatrocentas mil assinaturas???
Mas por que? Essa matemática não está correta:

Chico das Verduras - 5.903 votos (pode propor quantas besteiras quiser)
Quociente Eleitoral/RJ-2010 - 184 mil votos

Criação de Partido Político - 500 mil apoios de eleitores
Projeto de Iniciativa Popular - 1,4 milhões de apoios de eleitores


Isso está errado! A sociedade quer participar mais e tem direito de fazê-lo com equidade em relação aos votos parlamentares. Então, na minha opinião, se para eleger um deputado em números totais foram necessários 184 mil votos, o número de cidadãos em apoio aos projetos de lei de iniciativa popular têm que estar relacionado a esse número. Não pode ser quase dez vezes mais! Reforma Política Já!!!

Padrão FIFA pra quem?

Escolas e Hospitais no Padrão FIFA?
Vi vários cartazes pedindo escolas e hospitais no padrão FIFA nas manifestações.
Mas, peraí, a FIFA não é um antro de corruptos, que espolia os orçamentos dos países que sediam copas (O Brasil cedeu generosos R$ 500 milhões - aproximadamente - em "incentivos fiscais" para a FIFA)? A FIFA não é a organização que estabelece inúmeras exigências que beneficiam grandes corporações da construção civil, que ganham riso de dinheiro construindo estruturas que se tornarão inúteis depois da copa (como estádios gigantes em Mato Grosso)? A FIFA não é aquela organização que lucra milhões, ou seriam bilhões, com a realização dos eventos em todo o mundo?
Então, que história é essa de padrão FIFA?
Eu quero escolas e hospitais de padrão honesto, que possuam estruturas que ofereçam dignidade para alunos e pacientes, com bons salários e condições de trabalho para médicos e professores. Simples assim!
Não quero NADA que seja do padrão FIFA!
Sai fora, Fifa!

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Dificuldades em Responder

Estou tentando responder e comentar as postagens dos leitores e amigos, mas - por incrível que pareça, eu consigo postar artigos, mas não estou conseguindo comentar sobre o que escreveram aqui. Me desculpem, é um pouco de ignorância minha. Estou trabalhando para melhorar o serviço!

Saudações e até a caminhada,

O Movimento Acabou? Pra mim, não. Agora eu quero Plebiscito!

Manifestação em Brasília, em foto extraída da funpage Geração Invencível.

Não parei de pensar sobre nossas manifestações! Entre minha ida e volta a Paraty para uma reunião do Conselho Gestor da APA de Cairuçu, nesta quarta-feira, tomei contato com algumas poucas informações sobre novos protestos e pude ler alguns gentis e emocionados comentários do texto anterior. Pois bem, quando parei numa lanchonete da BR 101 no caminho de volta, tive a oportunidade de ver a manifestação de Niterói, o fechamento das duas faixas da Ponte Rio-Niterói e algumas outras mobilizações - como uma em São Paulo que teve seu início às 8hs da manhã. É, isso mesmo... saíram em passeata pela Avenida M Boi Mirim às 8 horas da manhã. Alguém já viu disso antes?

Mas o que mais me surpreendeu foi assistir ao Haddad reunido com o Alckmin para anunciar o cancelamento do aumento das passagens, dizendo em coro que isso poderia significar cortes na saúde e na educação. Não foi mágica a cena dos governantes do PT e PSDB juntos, com o rabo entre as pernas? Eles já estavam juntos condenando o movimento e defendendo o uso das forças de repressão contra ele - com respaldo do Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que oferecia a Força Nacional de Segurança para apoiar a repressão. Depois, estiveram juntos no jeito categórico de afirmar que era impossível abaixar as tarifas. E hoje, vejam só, mansinhos, mansinhos...

Mas a cara de pau não muda! Ora bolas, pro inferno com essa história de que vai ter que tirar da saúde e da educação pra dar pra esses inescrupulosos que transportam a população como boi, como sardinha. E ainda tem a indecência de jogar a culpa na população, tipo dizendo: "Taí, queriam desconto de ônibus, então vou deixar mais gente ainda morrer nos hospitais e mais analfabeto perambulando pelos sinais". Se vocês quiserem saber a opinião da massa de onde tirar, eu pelo menos sei dar umas dicas: extingue umas secretarias e uns cargos comissionados, acho que já dá pra chegar lá. Fica no zero a zero. Mas se eu acreditasse que eles estão lá pra governar pra população, eu sugeriria: faz uma auditoria no sistema de transportes. Eles não podem estar tão apertados de grana assim, haja vista que são os maiores financiadores de campanha e um dos maiores premiados com isenção de impostos. Aqui no Rio, por exemplo, eles tiveram um grande sinal de generosidade da Câmara Municipal há uns três anos atrás: tiveram uma redução que jogou para 0,001 o ISS sobre os ônibus da Cidade. Foi muito antes desse último aumento das tarifas. Já o nosso Imposto de Renda, nunca vi baixar assim.

Foto retirada da funpage Geração Invencível
Aqui no Rio também vi o prefeito sorriso anunciar o cancelamento do aumento abusivo. E o Cabral mandou avisar que vai lá também... Vai baixar barcas, trens e metrôs. Quer dizer, metrô - porque aqui a gente tem só um linhão com uma divisória. O Cabral eu acho que nem quis ir anunciar, porque foi tão ridícula a fala dele na semana passada que ele deve ter tido o bom senso de dar um tempinho. Lembram que ele falou que as manifestações pareciam ter motivações políticas e que não eram espontâneas. Talvez ele pense que as motivações devam ser apenas econômicas - como foram na passeata chapa branca que ele convocou para manter os royalties, e que espontaneidade seja como o encerramento do expediente dos servidores do Estado para que possam caminhar com ele pela Rio Branco. E o Paes, que ontem disse estar disposto a ouvir as reivindicações dos manifestantes em audiência com ele, tomou pito das lideranças: - "Peraí, Sr. Prefeito! O senhor não ouviu o que foi dito em alto e bom som???" Deveria ouvir tudo que foi falado, as propostas e os adjetivos que o povo atribuiu a ele. Bem, resolveu revogar o aumento também.

Agora, os Movimentos vão parar!

Será que eles esperam que as manifestações parem agora? Queriam reduzir as passagens, pronto. Está aí. Agora, se despeçam e voltem cada um pra sua casa. A brincadeira acabou e vamos continuar a governar nossas cidades e estados e esse nosso Brasil varonil. Será que pensam isso?

Eu acho que não pensam, mas querem. Desejam muito isso e já começaram a se articular para diminuir as mobilizações. Primeiro sinal notório: até antes dessa onda de manifestações, a polarização política no país se mantinha com o PT e PSDB. Eles dominam dois blocos hegemônicos que ocupam e disputam o comando do país há 20 anos, emergidos exatamente após o Impeachment do Collor. De lá pra cá dividiram o poder e mantiveram intactos os processos de crescimento e acumulação do capital no Brasil, numa economia de mercado com algumas variações nas políticas sociais, mas com o mesmo sistema político institucional. Depois desses 20 anos, temos como aliados o Lula, o Collor, Sarney, Renan Calheiros... O Lindberg às gargalhadas com o Collor... dentre outras cenas impensadas há duas décadas.

Mas hoje, não. Hoje foi o PT com o PSDB. Se uniram porque sabem que a crescimento dessa onda ameaça seus domínios sobre as estruturas de governo. Superaram suas divergências e estão unidos para derrotar as mobilizações do Outono Brasileiro! Estamos no Outono?

Outro ator importante do poder que já construiu sua estratégia para esvaziar as mobilizações foi a Rede Globo. Quando ela chamava os manifestantes de vândalos e baderneiros, tentava estampar esse rótulo para desmobilizar a sociedade, para que as pessoas de bem não se enxergassem como parte daquilo. É uma sutil forma de manipular a subjetividade social, através da rotulação e da desfiguração. Algo que não produzisse identidades entre os trabalhadores e cidadãos deste novo milênio. Não conseguiu! A indignação e a consciência de quem vem sendo enganado pelas grandes campanhas de marketing, poderosas propagandas vendendo modos de viver e variados merchandisings, foi mais forte. Então, agora a estratégia é outra. É dar cara, nome e CNPJ para o movimento.

A estudante Mayara Vivian, em foto extraída do site G1.
Escolheram a jovem Mayara Vivian, de São Paulo. Pelo pouco que vi, passou boa impressão. É articulada, inteligente e se expressa bem. Todas as qualidades de um bom líder. Então, acho que pode cumprir um bom papel. Mas como todo ser humano, a Mayara é falível, como cada um de nós individualmente. Ela tem ideias próprias, tem propostas próprias e tem sua forma de ver as coisas. Que pode ser parecida, mas não é a mesma que a minha. E aí já estou começando a encontrar leituras rotulando a Mayara, dizendo que já viram isso, que ela é uma nova anarquista utópica - contaminada por velhas ideias que não levarão a nada. Aí, cada um de nós vai olhar pra ela e pensar: - "Bem, não concordo com tudo que essa menina fala". E daí pra esvaziar as mobilizações, é um passo. É claro, porque a gente vai pras ruas e na hora de falar, vai lá e entrevistam a Mayara... Bem, eu gostei de ver a Mayara, mas eu não quero que ela fale por mim. Esse é o modelo que está aí: um monte de vagabundo dizendo que fala em nome do povo. Que povo, cara pálida?

Esse é o meio mais eficiente de acabar com o Outono Brasileiro - como alguns usam para comparar com a Primavera Árabe. A personalização das manifestações vai contagiá-la e fazê-la perder força. Eles temem isso que está sendo assim, sem porta-vozes, sem representantes, sem pautas... As pessoas querem reclamar, porra! Mas não é só isso. E por não ser só isso que eles precisam acabar com tudo rápido. Por essa causa, PT e PSDB se unem, Cabral e Paes abaixam suas arrogâncias olímpicas e seus acordos com a máfia do transporte. Eles apostarão todas as fichas nisso. Senão, imagina na Copa?

Democracia e Enganação

Bom, o discurso oficial agora será de que atenderam ao pleito do movimento. Afinal, não é por 20 centavos, mas foram eles que tilintaram nas nossas consciências. O que nos une agora, as propostas da Mayara, do PSOL e do PSTU, ou aquelas milhares de outras escritas por cada um de nós nos cartazes que levamos pras ruas??? Eis a questão, de onde vai brotar essa resposta?

De várias formas elas já estão nas redes, como comentei no artigo anterior. Assinamos essas propostas o tempo todo e sempre trazemos mais. Estamos aprendendo a construir agendas, movimentos e ideias de forma remota. Cada qual com seu canal! Foi assim que surgiu esse movimento.

Bem, mas como fica isso, vão perguntar. Eu não sei ao certo, mas sei que vou continuar a ir pras ruas. Eu tenho motivos de sobra e sempre que convocarem, estarei lá prestando minha contribuição às causas. Mas e os agentes do Estado Democrático de Direito? Os vereadores, deputados, senadores, prefeitos, governadores, os juízes e desembargadores... Como esses detentores do poder podem recepcionar as causas do movimento? É certo que vários irão agora procurar a Mayara para saberem o que a gente quer. Bem, a Mayara é preparada e sabe o que ela e o grupo que ela lidera querem. Mas eu não cheguei a falar pra ela o que eu quero e pelo que eu luto. E eu sou desse movimento. Eu e um montão! Como a gente faz, então?

Eu pensei nisso. E eu tive uma luz. Não é pra iluminar ninguém, mas clareou minhas ideias. Eu não quero essa democracia de merda - que a gente dá carta branca pra outros falarem por nós. Eu tô fora! Eu quero participar diretamente e se não tiverem meios, eu fico gritando nas ruas. Eu quero é que minha voz seja escutada. Não quero sobressair, mas quero ser ouvido. E eu não acredito mais nesses processos tradicionais - que a gente tem que ficar falando com máquinas no telefone pra poder sugerir, reclamar ou se informar. Máquina é o escambau. Ou sou gente, quero dialogar com gente.

Então, vou dizer: eu quero Plebiscitos! Não quero só um, não. Eu quero vários plebiscitos. Eu não quero mais delegar assuntos tão estratégicos do meu País para essa canalhada que se mancomunou nas estruturas de poder. Eu quero discutir e votar o sistema de concessões de transportes da minha cidade. Eu quero discutir e votar as grandes obras estratégicas na minha cidade. Eu quero discutir e votar sobre as regras de proteção das florestas brasileiras. Quero discutir e votar sobre a Legalização da Maconha, sobre a regulamentação do aborto. Eu cansei de assistir desolado o Congresso Nacional promover as maiores vergonhas nacionais e votar assuntos que refletem na minha vida, no meu trabalho e na minha felicidade sem considerar absolutamente nada do que eu penso. Agora, eu quero votar também. Eu quero Plebiscito!!!

Eu quero Recall nas eleições para os Executivos. Eu abro mão de votar em candidatos de dois em dois anos. Isso já tá enchendo. Bota tudo no mesmo ano e nos outros três anos, vamos encher de plebiscitos. Mas não com voto obrigatório. Vai votar quem quiser, quem não fizer questão, assiste ao Faustão. É capaz que digam que isso é caro, que teriam que tirar dinheiro da saúde e educação. Tudo bem. Eu penso que pode acabar com o Senado. Pra que serve o Senado? Ah, é que nosso sistema é bicameral e coisa e tal. Tá bom, eu abro mão do bicameral. Deixa lá só a Câmara dos Deputados. Mas por mim, pode diminuir os atuais 513 deputados para uns 300. Esse número já é bem representativo. Afinal, está provado nos parlamentos de todo o Brasil que quantidade não tem absolutamente nenhuma ligação com qualidade.

Então, vamos lá. Segundo o Transparência Brasil, cada senador custa anualmente R$ 33 milhões. Como são  81 cadeiras, esse valor total é de R$ 2,7 bilhões anuais. De acordo com a mesma fonte, um deputado federal custa R$ 6,6 milhões/anos. Se cortarmos 213, teremos uma economia anual média de R$ 1,4 bilhões. Ao todo, só essa mexidinha geraria economia anual de mais de R$ 4 bilhões. Usa-se uma parte para gastar com plebiscitos e o excesso para melhorar a saúde e a educação!

Bom, eu sei que isso é utopia! Mas eu acredito que é um bom caminho, porque eu também sei que o Senado não fará falta nenhuma pra mim. Se fizer pra alguém, eu respeito a opinião. Mas a minha é que o Senado não faz falta e que os 213 deputados também não diminuirão minha representatividade na Câmara Federal. Eu quero mudar essa velha República, eu quero um novo país. E quem não chegou a pensar que era utopia baixarem as passagens? E baixaram muito rápido, pras coisas se acalmarem. Mas eu não acalmei.

O Plebiscito existe na Constituição Federal, mas a canalhada do poder não quer usar. Eles agora fingem que reconhecem o movimento, que atendem suas reivindicações, que legitimam suas lideranças, mas eles estão entregando apenas os anéis, pra manter seus grandes e musculosos dedos na condução dos tortos e tortuosos rumos das nossas cidades, estados, do País, do nosso dinheiro e das nossas vidas!

E eu, não quero mais isso. Eu quero é mais!  



terça-feira, 18 de junho de 2013

Geração Facebook! E agora, quem segura essa galera?

(Imagem extraída da funpage Geração Invencível)

Vou dizer uma coisa: esse movimento que tomou o Brasil e se expande pelo mundo, com brasileiros se reunindo em Nova Iorque, em Portugal, França e outras países, é surpreendente e motivador, assim como suscita algumas interrogações!

Estive nas passeatas da sexta feira passada - onde tivemos 10 mil participantes -, e na de ontem, quando fomos mais de 100 mil (se a mídia divulgou 100 mil, pode crer que era bem mais). A emoção de participar desse movimentou remontou aos idos dos anos 1980, quando forjamos a redemocratização brasileira. Àquela época, lotamos a Rio Branco inúmeras vezes e subimos ao terraço do Congresso outras tantas. Tive a oportunidade de subir, inclusive, no alto daquela cuia branca - que não sei dizer se tem um nome específico.

Me lembrei também das passeatas do Fora Collor, no ano de 1992, mesmo período no qual foi realizada a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento - a RIO92. Nelas foram reveladas lideranças importantes, como Lindberg Farias.

Mas as manifestações de agora são diferentes.

Nos anos 80, as manifestações eram bem organizadas em alguns aspectos: tinham carros de som oficiais, palanques, adesivos, panfletos e pautas bem definidas. Elas tinham lideranças pessoais e institucionais - os partidos políticos, entidades estudantis, sindicatos de trabalhadores e outros. Elas tinham como objeto a disputa do poder, geralmente pelos meios institucionais. Mesmo os grupos designados como revolucionários, mesmo esses eram orgânicos e, portanto, estavam dentro de partidos ou organizações semiclandestinas.

Já o Fora Collor, pra quem se lembra bem, foi promovido pela Rede Globo, com seus noticiários induzindo as pessoas a se vestirem de verde e amarelo, de pintarem a cara, de apoiarem o impeachment do Collor. Foi exatamente no período que foi ao ar a mini série Anos Rebeldes, glamourizando a rebeldia juvenil com belos atores a atrizes.

Agora, não!

Foto da Passeata dos Cem Mil - Av. Rio Branco - 17 de junho de 2013 (fonte: Geração Invencível)

Não, mesmo. Eles agora vaiam e repudiam os partidos. Quem pensa que tem vida fácil os bravos resistentes do PSOL e do PSTU no meio da manifestação, tá muito equivocado. A grande maioria desses manifestantes não canta só "O Povo Unido Jamais Será Vencido". Essa maioria gosta mais de cantar "O Povo Unido Manifesta Sem Partido"! Esse refrão é muito forte. Num dos três pequenos carros de som que estavam na manifestação, um rapaz festejava em seu discurso a vitória promovida pelos alunos nas eleições para Reitor do Colégio Pedro II. Tomou vaia, que foi seguida pelo coro: "Não, não, não à Partidarização!". Era sobre eleição escolar, mesmo assim os que estavam em volta repudiaram. Assim como foi relatado que arrancaram uma bandeira de um militante partidário.

Menos parecido ainda com o Fora Collor, que motivava muita gente pela possibilidade de ganhar alguns segundos de fama no jornalismo da Globo, que à época adotou o Lindberg e a UNE. As manifestações eram dóceis, relativamente manipuladas pelos interesses de setores das classes dominantes que estavam alijadas dos esquemas montados pelo Collor e que festejavam a reação popular.

Agora, não...

Essas manifestações que se espalham pelo Brasil não têm lideranças institucionais. Elas não têm a UNE, a CUT. Elas não têm lideranças políticas. Elas não tem pautas reivindicatórias que possam ser negociadas numa mesa de administração de conflitos. E o que elas têm, então?

Elas trazem revolta e indignação! E têm ainda os que perguntam: Ah, mas tudo isso por R$ 0,20?

Não, é por direitos!

Essa Geração Facebook cansou de mandar recados. Mandou muitos mesmo. Essa importante ferramenta de comunicação quebrou o bloqueio dos que eram "donos" da opinião pública - em geral essa mídia vagabunda e essas empresas corruptas de pesquisas de opinião.  A Geração Facebook não precisa da Globo e do IBOPE. Ela faz suas enquetes, publica suas notícias, "vaza" informações importantes, monta campanhas, organiza manifestos e abaixo-assinados e muito mais.

E de que adiantou? De absolutamente nada! A Geração Facebook está dando os sinais do que quer de forma aberta, transparente e espontânea. Mas as classes dominantes brasileiras - especialmente a classe política - insiste em ignorar. E não só em ignorar, mas em promover verdadeiros deboches com os brasileiros, montando esquemas, tramoias, trapaças e todo tipo de desvio a olhos nus. É um completo escárnio, que se sustenta em processos eleitorais ilícitos e completamente corruptos.

E quando alguns já cansavam de dizer que o Facebook era um mero muro de lamentações, composto por gente passiva e acomodada, temos essas gigantescas manifestações - que se espalham e contagiam brasileiros dos cantos mais remotos desses país.

Vândalos e Baderneiros?

Eu não sei, não. Mas qual seria a veia ideológica dessa galera? Eles são contra os partidos, contra as organizações políticas, contra as emissoras de TV, contra a corrupção e mais um balde de coisas. Mas são a favor de que???

Cantamos muito o Hino Nacional e aquela assim "Eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor!". É uma identidade nacional. Mas, e aí?

Quem pode responder?

Eu não encontrei respostas. Mas eu arriscaria dizer que a maioria desses 100 mil estão entre aqueles que nas últimas eleições se somam aos crescentes índices de ausência, abstenção e votos nulos. Esses índices já ultrapassam os 30% em cada eleição. E, então, quem vai governar para essa galera, quem vai dialogar com essa galera, quem vai tentar entender o que pensa essa galera, pra dar um novo rumo às formas atuais de representação - que estão carcomidas e apodrecidas???

Pois é, acho que ninguém se dispôs ou conseguiu essa proeza. Então, essa parcela da população se sente cada vez mais excluída, cada vez mais distante, cada vez mais oposta a esses sistemas políticos que não a representam. É por isso que em nenhuma das manifestações as "lideranças" foram ao encontro do governante para negociar uma pauta de reivindicações. Essa Geração não reconhece as estruturas de governo como legítimas para direcionarem pautas de reivindicações. Ela acredita que essa velha fórmula está abolida. Não confia nos acordos políticos, não confia nos conselhos de representação, nas audiências públicas ou nas ouvidorias das estatais e nos SACs das empresas. Ela sabe que essas estruturas não funcionam a contento. É apenas uma válvula de escape.

Então, a Geração Facebook arregaçou suas mangas e de posse se seus tablets e iphones invadiu as ruas pra protestar. Parecia que era pelos 20 centavos, mas é também por transportes de qualidade, pelo fim do abuso das empresas de ônibus - que têm poder até pra acabar com o cobrador e acumular a função no motorista, sem qualquer acréscimo salarial. É contra a farra do desperdício do dinheiro público com as obras da Copa e Olimpíadas. É contra esse Congresso Nacional que deformou o Código Florestal, enterrou os Direitos Humanos e que tem agora como alvo o Ministério Público e o Supremo Tribunal Federal. É contra a perpetuação da imoralidade pública nos parlamentos, que são presididos por verdadeiros bandidos! É contra o Cabral, contra o Eduardo Paes, contra o Renan Calheiros, contra o Sarney! (Peraí, né, contra o Renan Calheiros, o Collor e o Sarney e minha geração Anos 80 já era... Quem sabe agora chegou a hora dessa canalhada!!!)

É uma infinidade de coisas. Isso tudo já estava sendo dito nas redes sociais, mas a classe dirigente ignorou. Ignorou e continuou rindo e debochando da cara do brasileiro. E aí vem enfiar uma Copa e uma Olimpíada que expulsam parcelas da população para fazer obras "pra inglês ver".

E aí, num cenário desses de descrença absoluta e de revolta e indignação, as pessoas resolveram partir pra cima. Mas vão pra cima de quem?

Bom, é só olhar: os chamados "vândalos" estão atacando quem? A Polícia - onde ela ataca primeiro, em geral; a Assembléia Legislativa do Rio; o Governo do Estado de São Paulo; o Congresso Nacional. Enfim, as principais representações do status quo brasileiro. É uma pouco expressiva minoria que tem feito o enfrentamento físico, saindo pra rua como se estivesse indo a uma guerra, ou pelo menos a uma guerrilha urbana. Esses poucos acreditam que não há mais absolutamente nada a ser tentado, restando destruir essas representações - como que se com a destruição das edificações que sediam essas instituições elas também pudessem ser eliminadas.

A maioria pacífica não quer usar da violência, mas ela também já não quer legitimar os processos formais e institucionais de diálogo do nosso hipotético Estado Democrático de Direito. Ela quer ir mais além.

E aí é que a porca torce o rabo: quem vai segurar essa galera, se ela já está tomando as ruas, mas não sabe direito para onde quer ir?

Eu, pessoalmente, não sei. Mas eu tenho um lado. Eu vou pras ruas!

PS.: Quanto aos que saquearam e queimaram carro de trabalhador, as lojas Cacau Show, da Havaianas, do Restaurante Ao Vivo e outros estabelecimentos públicos e privados, esses são vagabundos aproveitadores. Não me importa se a origem da ação está também numa revolta contra esse estado de coisas, mas esses - eu não me espantaria se se sentissem muito à vontade se estivessem numas das cadeiras dos nossos governos e parlamentos. Repudio veementemente suas práticas, assim como dos PMs que atiraram com armas de fogo contra a população. São dois lados podres de uma mesma moeda.