segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Censura e obscurantismo avançam nas Universidades

Perseguição política atinge o Professor Doutor Marcos Sorrentino na ESALQ - USP, que será investigado por realizar atividade em conjunto com o MST.


Conheço o Marcos Sorrentino desde os idos da década de 1980, quando fui à São Paulo participar de um encontro da Assembleia Permanente de Entidades em Defesa do Meio Ambiente - APEDEMA/SP com o objetivo de reproduzir a experiência aqui no Rio. Eram várias as organizações de defesa do meio ambiente reunidas nessa grande arena democrática. Aplicamos o modelo no Rio e fundamos a APEDEMA/RJ como coletivo de movimentos e organizações, já que a daqui era uma assembleia de cidadãos. Bahia e Rio Grande do Sul, se não me engano, fundaram também suas APEDEMAs, enquanto outro estados criaram fóruns similares com outras nomenclaturas.

Sorrentino foi posteriormente um grande aliado nos processos preparatórios para a organização dos eventos paralelos à Rio 92, no âmbito do Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais Preparatório para a RIO 92.

Depois de sua imersão na academia, fomos trabalhar juntos no Ministério do Meio Ambiente. Ele coordenando a Diretoria de Educação Ambiental e eu o Fundo Nacional do Meio Ambiente - FNMA.

Amigo de longas datas e companheiro de lutas ecológicas, Sorrentino agora sofre perseguição por levar reflexão sobre as questões que envolvem o uso das terras no Brasil - esse grande latifúndio que expulsa o trabalhador do campo e destrói o meio ambiente em nome de uma minoria de latifundiários. 

O "desvio" de conduta investigado foi a promoção da 4ª Jornada da Reforma Agrária na Universidade de São Paulo!

Aproveito esse espaço para denunciar esse ato obscuro e censurador, e para me solidarizar com o Prof. Marcos Sorrentino, reproduzindo e assinando a carta elaborada pelos professores da UnB.   



Brasília, DF, 03 de novembro de 2017.

Ao Senhor
Diretor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ) – USP
Prof. Dr. Luiz Gustavo Nussio

Nós educadores e pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) – campus Planaltina, repudiamos o processo de instalação de sindicância instaurada pela direção da unidade em que o Prof. Dr. Marcos Sorrentino atua, cuja finalidade é investigar uma atividade acadêmica organizada pelo Laboratório de Educação e Política Ambiental (OCA, ao qual pertence o professor Sorrentino) em conjunto com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

O Prof. Marcos Sorrentino é uma das maiores referências para o pensamento ambiental latino-americano e para a educação ambiental. Atuou como diretor de Educação Ambiental no Ministério do Meio Ambiente (2003-2008), na gestão da Ministra Marina Silva. Possui em sua trajetória de vida e profissional, mais de 30 anos de luta por uma sociedade mais justa e igualitária, e sempre fez isso por meio do diálogo e com ações, projetos e iniciativas no campo da Educação.

Sua trajetória como acadêmico, como educador-transformador, cidadão brasileiro comprometido com uma nação mais justa, solidária, democrática, sustentável e como cidadão planetário tem todo nosso apoio e respeito.

Causou-nos estranheza a abertura de uma sindicância nessa quarta edição da Jornada pela Reforma Agrária, sobretudo, em um momento histórico no qual vivenciamos no País iniciativas de grupos conservadores em defesa do patrulhamento ideológico, por exemplo, o Movimento Brasil Livre (MBL), da Escola sem Partido e da destituição do educador Paulo Freire como patrono da educação brasileira.

Soma-se a esse contexto, situações de ataque às artes e aos museus que as expõem; mesmo momento histórico em que o Estatuto do Desarmamento estimula latifundiários a se armarem para 'defender' seu patrimônio; mesmo momento em que se anistia o agronegócio das multas ambientais e as Unidades de Conservação, terras indígenas e quilombos estão sendo tratados como entraves ao processo de transformação do uso do solo de territórios de gente para territórios do capital.

É também neste cenário que o Brasil bate recordes de assassinatos de lideranças campesinas-ambientalistas no campo, apenas em função de suas resistências para outros modos de vida além do capital.

Por isso, essa carta representa o nosso repúdio e nossa preocupação com as formas de intimidação àquele(a)s que atuam na Universidade Pública com o compromisso social de problematizar e refletir, em parceria com os movimentos sociais agrários, temas cruciais para a construção de uma nação soberana, tais como: os modelos de agricultura colocados em prática, a condição arcaica de matriz exportadora de matéria-prima, a situação da agricultura familiar e a brutal desigualdade social e de distribuição da terra em nosso País.

Respeitosamente,

Assinam:
Prof. Dr. Irineu Tamaio
Prof. Dr. Sérgio Sauer
Profa. Dra. Mônica Celeida Rabelo Nogueira
Prof. Dr. Rafael Villas-Boas
Prof. Dr. Philippe Pomier Layrargues
Prof. Dr. Ricardo Toledo Neder
Profa. Dra. Tânia Cristina da Silva Cruz
Prof. Dr. Jair Reck
Profa. Dra. Joelma Rodrigues da Silva
Prof. Dr. João Batista Pereira Queiroz
Profa. Dra. Regina Coelly Fernandes Saraiva
Profa. Dra. Mônica Castagna Molina
Prof. Dr. Eduardo di Deus
Profa. Dra. Juliana Rochet Wirth Chaibub
Prof. Dr. Marcelo Ximenes Aguiar Bizerril
Profa. Dra. Janaína Deane de Abreu Sá Diniz
Prof. Dr. Reinaldo José de Miranda Filho
Prof. Dr. Flávio Murilo Pereira da Costa ????
Prof. Msc. Acácio Zuniga Leite
Profa. Dra. Eliene Novaes Rocha????
Profa. Dra. Marianna Assunção Figueiredo Holanda
Prof. Dr. Bernard Herman Hess ????
Profa. Dra. Caroline Siqueira Gomide ????

Apoiadores da carta da UnB:
Profa. Dra. Michèle Sato (UFMT)
Profa. Dra. Débora Pedrotti-Mansilla (UFMT)
Prof. Dr. Heitor Queiroz de Medeiros (UCDB-MS)
Prof. Dr. Thiago Cury Luiz (UFMT)
Profa. Dra. Michelle Jaber-Silva (UFMT)
Profa. Dra. Regina Aparecida da Silva (UFMT)
Profa. Dra. Cássia Fabiane Souza (UFMT)
Profa. Dra. Giseli Dalla-Nora (UFMT)
Prof. MSc. Rogério Rocco (UCAM-Niterói)


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