Em carta aberta, servidores federais desmentem afirmações de interventor de que teria sido convidado para o cargo
Servidores públicos e representantes de movimentos socioambientais em protesto contra loteamento de cargos na área ambiental para políticos e empresários
Após a divulgação de carta do empresário Ricardo Raposo (publicada aqui no blog) que acusa servidores de serem ligados ao PT e ao PSOL, tentando desqualificar resistência contra loteamentos de cargos em todo o país para atender aos interesses escusos de políticos e empresários para cargos na área ambiental federal, associações fundamentam movimentos de servidores e de lideranças socioambientais.
Veja abaixo a íntegra do texto elaborado pelas associações representativas dos servidores do ICMBio e IBAMA:
"A ASCEMA Nacional vem por meio desta prestar
esclarecimento no tocante às colocações feitas pelo Sr. Ricardo Raposo na
imprensa sobre sua indicação para o cargo de coordenador regional da CR-8/ ICMBio
- Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade.
Em primeiro lugar, repudiamos totalmente a
tentativa do Sr. Raposo de desqualificar os servidores do ICMBio, bem como as
manifestações por estes organizadas pela ASIBAMA/RJ –
Associação dos Servidores Federais da Área Ambiental no Estado do Rio de
Janeiro e ASCEMA Nacional – Associação
Nacional dos Servidores da Carreira em Meio Ambiente e do PECMA, com apoio do
movimentos sociais e conselhos das unidades de conservação na área da CR8.
O movimento do ICMBio contra o loteamento político no órgão foi iniciado em
agosto de 2017, quando houve uma primeira tentativa de indicação do Sr. Raposo
para o cargo de coordenador regional da CR-8. Na ocasião, foi elaborada uma
carta ao MMA que obteve mais de 240 assinaturas de servidores de carreira do
Instituto, de diversos estados brasileiros. É importante destacar que através
dessa carta 90% dos chefes das Unidades de Conservação Federais vinculadas à
Coordenação Regional e ainda os Analistas Ambientais e servidores diretamente
vinculados a esta coordenação se manifestam expressamente contra a nomeação do
Sr. Raposo para o cargo. Na mesma ocasião, foi elaborada uma carta dos
movimentos sociais em defesa do ICMBio, assinada por 12 entidades
representantes da sociedade civil organizada.
Segundo o
Ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, “a direção do ICMBio é livre para
compor seus quadros, mas que quando há um pedido para a ocupação de cargos de
confiança (de livre nomeação) pela Casa Civil, ele informa ao presidente da
autarquia que precisa desta vaga.”
Após a repercussão do movimento, o MMA voltou atrás
na nomeação, tendo o Ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, informado na
imprensa que “a direção do ICMBio é livre para compor seus quadros, mas que
quando há um pedido para a ocupação de cargos de confiança (de livre nomeação)
pela Casa Civil, ele informa ao presidente da autarquia que precisa desta vaga.
No caso da CR8, o ministro informou que eles pediram, mas depois foi avaliado
internamente que não haveria condições para ceder numa área tão estratégica do
órgão.” Isso demonstra claramente que a nomeação do Sr. Ricardo Raposo nunca
foi um convite do ICMBio ou MMA para o cargo, conforme ele sugere em suas falas,
tendo sido o cargo disponibilizado pela Casa Civil, e o nome indicado através
do deputado Estadual André Correa (DEM/RJ). Após fala do ministro,
“coincidentemente” um dia após a denúncia contra o presidente Michel Temer
ser encaminhada ao Congresso Nacional, a ameaça da nomeação do mesmo
senhor Raposo voltou com força total, vinculando claramente esta indicação ao
loteamento de cargos em troca de votos, na defesa do presidente Michel Temer.
O currículo do Sr. Raposo fala por si: histórico
profissional empresarial com 20 anos de atuação na área de propaganda e
marketing, dois anos em cargos políticos na Prefeitura Municipal de Teresópolis
(Secretário de Comunicação e Ouvidor Geral), e há apenas cerca de dois anos e
meio assumiu cargos no INEA relacionados a gestão de Unidades de Conservação.
O Sr. Raposo se vangloria de sua experiência, mas não tem formação na área e
ocupou cargos apenas por indicação política. A coordenadora exonerada sem
qualquer motivação que não a disponibilização do cargo para barganha política é
analista ambiental concursada com 28 anos de carreira.
Dentre os 29 chefes de UCs vinculadas à CR-8, 28
são servidores de carreira da área ambiental, com largos currículos,
conhecimento técnico e do funcionamento do órgão, muitos tendo contribuído ao
longo dos anos na própria construção do ICMBio, suas normativas, diretrizes e
cursos de capacitação, que são reconhecidos por sua excelência. Falar em
“convite” e “meritocracia” neste cenário chega a ser ofensivo. Uma tentativa de
ludibriar a população e esconder os verdadeiros propósitos deste senhor e de
seus padrinhos, que são de ocupação de espaços para defesa de interesses
particulares ou de grupos específicos. O que está por trás da nomeação do Sr.
Raposo para a Coordenação Regional 8, como já se sabe, é a política do governo
do Estado do Rio de Janeiro.
Manifestantes reunidos em frente ao Centro de Visitantes das Paineiras, no Parque Nacional da Tijuca, em protesto contra loteamentos de cargos no ICMBio
O ICMBio, através de suas coordenações regionais
atua na emissão de Autorizações para o Licenciamento Ambiental, nos
licenciamentos estaduais e municipais que impliquem em impactos sobre Unidades
de Conservação federais. O olhar do ICMBio sobre os processos de licenciamento
realizados pelo INEA é um dos motivos de cobiça dos políticos cariocas, que não
desejam a interferência técnica sobre suas decisões nos procedimentos
licenciadores. Já temos o caso de uma licença emitida para o Terminal Portuário
de Macaé, sem Autorização do ICMBio, pois os estudos ambientais apresentados não
eram conclusivos sobre impactos na Unidade.
O que se observa no Licenciamento ambiental no
estado do RJ é uma flexibilização cada vez maior na exigência de estudos,
propiciando, por exemplo, a implantação de um polo de exploração mineral na APA
São João, sem estudos aprofundados (seja EIA ou AAE), podendo resultar em
situações ambientais alarmantes, semelhantes ao registrado no polo areeiro da
reta de Piranema, em Itaguaí. Os dirigentes do INEA vêm tratando o ICMBio, bem
como FUNAI e Fundação Palmares, como intervenientes nos processos de licenciamento
estaduais, seguindo antecipadamente a lógica da Lei Geral de Licenciamento,
ainda em discussão no Congresso Nacional, visando neutralizar as restrições aos
empreendimentos que impactem as áreas protegidas por estas instituições públicas.
O Sr.
Ricardo Raposo é investigado pelo Ministério Público Federal por crime de
advocacia administrativa na defesa de construção embargada pelo ICMBio e pelo
INEA em unidades de conservação.
O próprio Sr. Ricardo Raposo é
investigado pelo Ministério Público Federal por crime de advocacia
administrativa na defesa de construção embargada pelo ICMBio e pelo INEA em
unidades de conservação (processo 1.30.014.000195/2017-09).
A nomeação do Sr. Raposo, desta forma, além de ser
moeda de troca política, representa também uma tentativa de INTERVENÇÃO no
ICMBio da política dominante atualmente no estado do Rio de Janeiro, o que pode
trazer graves prejuízos às Unidades de Conservação federais.
Nós, servidores da carreira de meio ambiente organizados
através da ASIBAMA/RJ e ASCEMA Nacional, vimos repudiar a nomeação do Sr.
Raposo para o cargo de coordenador regional da CR-8, bem como quaisquer outras
indicações pautadas por interesses clientelistas para cargos nas
autarquias federais de meio ambiente, sem as devidas qualificações
técnicas e experiência larga e comprovada na gestão ambiental pública."
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