domingo, 11 de março de 2012

Aumento das Barcas: O PV em cima do muro

O tão polêmico aumento de 60% das tarifas de travessia Rio-Niterói, da Barcas S/A, que de R$ 2,80 passou para R$ 4,50, deixou o Partido Verde em cima do muro.

Com dois deputados na Assembleia Legislativa – Aspásia Camargo e Xandrinho – o partido se dividiu na votação sobre o subsídio para o aumento das tarifas.

Segundo comunicado divulgado pela Deputada Aspásia, “a Alerj não aprovou nenhum aumento de tarifa das barcas. O aumento foi decidido pela AGETRANSP”, que é a agência reguladora dos transportes concedidos no Estado do Rio de Janeiro. Sua justificativa ocorre pelo fato de seu nome circular nas listas que divulgam os deputados que teriam votado favoráveis ao aumento das barcas.

Aspásia explica que o que ganhou seu voto foi o projeto que estabeleceu um subsídio para que o concessionário da Barcas S/A receba R$ 4,50/passageiro pelo serviço que oferece, sendo que, para o usuário que fizer um cadastro e a aquisição do bilhete único, a passagem custaria “apenas” R$ 3,10. Os outros R$ 1,40 de cada passageiro passam a ser pagos pela população do Rio de Janeiro.

Maior liderança do PV no Estado, Fernando Gabeira – que liderou a oposição a Paes e Cabral nas duas últimas eleições -, criticou em seu site a aprovação do subsídio pelos deputados, dentre eles Aspásia Camargo, sem fazer referência a nenhum deles: “Se eram, no fundo, contra o aumento, por que não protestaram? São mistérios de ano eleitoral no Rio. Barcas, ônibus e trens aumentam com incrível facilidade”, afirmou Gabeira.

Em seu site, ele informa ainda que o grupo que invadiu o site das Barcas S/A, o Anonymus, teve acesso a um estudo de tarifas que indicou a necessidade da passagem passar para R$ 3,20 e não para os R$ 4,50 concedidos. O caráter espúrio do aumento é tão transparente, que o Governador Cabral vetou a inclusão do faturamento do concessionário com o uso publicitário das barcas e estações, das lojas nas barcas e estações, assim como – pasmem – a operação da Linha Praça XV – Charitas. Ou seja, o governador queria excluir todas as atividades lucrativas das Barcas S/A no cálculo de sua operação, a fim de superdimensionar a necessidade do subsídio, em franca vantagem econômica do concessionário e em detrimento da economia popular.

Mas a Deputada Aspásia afirma que votou assim, como “forma de garantir à população a continuidade da prestação dos serviços até a chegada das novas barcas. Com isso, evitamos repetir o que aconteceu com o bondinho de Santa Teresa, que foi sucateado até o ponto de provocar um desastre com mortes e o fim do serviço”.

É, pode ser!

Mas há pelo menos uma grande diferença que compromete qualquer comparação entre a operação das barcas e dos bondes: as barcas foram objeto de concessão e têm obrigações contratuais que nem de longe foram cumpridas. Além disso, apesar de serem operadores privados, contam com gigantescos aportes de recursos públicos e garantem seus lucros. Já os bondes, esses contavam com a exclusiva incompetência do governo estadual – o que não deveria ser tratado com essa entorpecida naturalidade pela população.

Gabeira finaliza trazendo algum conforto:
“Alguns deputados de oposição resistiram ao aumento e votaram contra, como é o caso de Luiz Paulo Correa da Rocha, Marcelo Freixo e Clarissa Garotinho. Fica pelo menos o registro de que nem tudo naufragou. Doze parlamentares votaram contra.”

O outro deputado do PV, o Xandrinho, votou contra o aumento e o subsídio às tarifas. Afinal, o subsídio aumenta a nebulosidade sobre os critérios para a aprovação de um aumento de 60% dos valores cobrados, com um serviço de péssima qualidade e de consideráveis riscos para a população.

Parece não ter sido por acaso que Gabeira não citou nenhum dos dois deputados do PV em sua matéria. Como liderou a oposição ao Governador Cabral na última eleição, pode estar envergonhado com essa dúbia posição do partido diante de assunto tão importante e estratégico para o estado e a população.

Talvez seja a hora da Executiva Estadual do Partido Verde se posicionar e tirá-lo de cima do muro, optando expressamente por um dos lados desta moeda.

3 comentários:

  1. Escrito por Aspásia Camargo
    Seg, 05 de Março de 2012 19:42

    -"Quando o calendário eleitoral de aproxima, às vezes as forças políticas ficam nervosas e apelam para o “vale tudo”. A verdade é que a Alerj não aprovou nenhum aumento de tarifa das barcas. O aumento foi decidido pela AGETRANSP. Quem dera que os deputados estaduais pudessem definir tarifas. Quem dera! Nosso poder não chega a tanto.
    O que foi votado foi a concessão de subsídio por meio da “tarifa aquaviária social e temporária”. Ou seja, sem este projeto, a tarifa ficaria em R$ 4,50. Com o subsídio, ela cai para R$ 3,10 para quem utilizar o bilhete único.

    Esta foi a forma de garantir à população a continuidade da prestação dos serviços até a chegada das novas barcas. Com isso, evitamos repetir o que aconteceu com o bondinho de Santa Teresa, que foi sucateado até o ponto de provocar um desastre com mortes e o fim do serviço.

    Meu trabalho sempre foi pautado pela oposição responsável, voltada para a solução dos problemas, e não para fragmentação social. O “quanto pior, melhor” não nos interessa." Essas foram as palavras de Aspásia Camargo, em seu site. O termo "oposição responsável" merece reflexão. A importância da Deputada para o partido é incontestável, e suas atitudes com erros ou acertos farão diferença nas urnas. Sua formação cultural, partidária e pessoal está diretamente associada ao PV. Sua posição de seguir os interesses do partido e do povo, será fundamental para todos.

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  2. Me incomodou a palavra "apenas", assim entre aspas, no quarto parágrafo. Dando a impressão que fora dita por Aspásia. Leviandade corrigida pelo comentário de Paulo Fragoso, acima. Que, trazendo o texto original, mostra que não foi dita por ela.
    Além da reflexão sobre uma "oposição responsável" proposta pelo Paulo, devemos também rever nossa prática de só nos falarmos com apoio de mídia. Ou seja, com a intemediação de um meio de comunicação público como este que uso a contragosto, e não diretamente, pessoalmente. Essa é uma prática que mais nos enfraquece do que constrói. Mas, talvez essa seja a intenção.
    O ambiente pé-eleitoral é tenso e cheio de ameaças e oportunidades. Nossa fraquezas devem ser transformadas em forças para o momento da campanha. Penso, que nossa missão partidária é no primeiro turno, prioritariamente, garantir nossa representação na Câmara de Veradores. Não podemos arriscar perder as três cadeiras que temos e enfraquecer o partido, em nome de posições pessoais. Que são importantes, mas que perdem relevância diante de certas condições, como já demonstrou Prestes.

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    1. Caro Paulo, vc tem razão com relação ao "apenas". Faço aqui minha autocrítica, aceitando sua observação crítica. Quanto ao restante, permita-me discordar. "Oposição responsável" é uma expressão que cabe em qualquer lugar, mas o voto do Xandrinho contra o subsídio seria então uma "oposição irresponsável"? Penso que não. Na minha opinião, Xandrinho fez oposição e Aspásia votou com a base do governo. É um voto de conforto para o Governador, para que estejam legitimados seus acordos espúrios com os empresários dos transportes - que lhe financiam a campanha em troca dos contratos do metrô, barcas, ônibus, trens e futuramente os bondes. Quanto ao debate, sou plenamente a favor e estou disposto a fazê-lo aqui e em qualquer outro lugar. Todos sentiram a falta da Aspásia no debate sobre cenários para a oposição, mas infelizmente ela não foi em razão da viagem a Brasília para a reunião da Executiva Nacional, da qual acabou também não participando. O debate é saudável em qualquer espaço e se não tivéssemos o FB não teríamos a oportunidade de fazê-lo sequer aqui. Penso que como dirigente do partido, ela poderia propôr a realização desse debate. Seria muito bom para o partido. Fora isso, estamos há um ano construindo agendas e debates no partido, com o Núcleo de Ecologia Social. Fique a vontade para aparecer pela sede, todas as terças, a partir das 19hs, para debater com a gente! Um abraço,

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