quarta-feira, 13 de julho de 2011

Mobilidade urbana, circulação e transporte - Fortalecendo o rodoviarismo

Mobilidade Urbana, circulação e transportes


Questões como trânsito caótico, longos engarrafamentos, acidentes, transportes públicos lotados e de qualidade duvidosa, dentre outras, fazem da mobilidade urbana um dos principais temas associados aos investimentos que pretendem adequar a infra-estrutura da Cidade para os grandes eventos que aqui serão realizados.

Mas essa não é uma realidade exclusiva do Rio de Janeiro. Em todo o mundo, a questão da mobilidade urbana é um dos grandes desafios. Aqui do lado, na capital paulista, temos o exemplo do sistema de rodízio de carros, no qual cada conjunto de carros com final de placa com o mesmo número fica proibido de circular um dia da semana – induzindo seus proprietários a buscarem alternativas para sua locomoção.

Como estamos numa metrópole, não temos como prescindir de políticas públicas estaduais e federais para o trânsito e os transportes. E assim tem sido no Rio de Janeiro. Além dos programas e ações desenvolvidas pela municipalidade, ainda temos as ações promovidas pelo Governo do Estado, sendo que a implementação do Arco Metropolitano é uma das mais visíveis. O projeto pretende instituir uma via expressa que retire o trânsito de cargas das áreas e vias centrais das cidades, desde Itaguaí até São Gonçalo.

No âmbito da Cidade do Rio de Janeiro, uma das alternativas para a melhoria da mobilidade e da circulação são os BRTs. Esta é uma sigla em inglês que significa Bus Rapid Transit, ou seja, corredores expressos para ônibus. A sua concepção baseia-se em vias expressas destinadas para a circulação exclusiva de ônibus articulados, com capacidade para 160 passageiros. Eles parecem com os corredores de ônibus de Curitiba, e possuem ares de metrô de superfície.

Essa é a principal proposta para a Cidade do Rio de Janeiro, que prevê a implantação de três desses sistemas, que ligarão a Barra da Tijuca a três pontos diferentes, denominados de TransOeste, TransCarioca e TransOlímpica. Estes sistemas possuem as seguintes características:

TransOeste: fará a ligação Barra/Santa Cruz/Campo Grande.

TransCarioca: Barra da Tijuca/Aeroporto Internacional Tom Jobim/Ilha do Governador – Também conhecida como T5, essa via terá 39 km de extensão que ligarão a Barra da Tijuca ao Aeroporto Tom Jobim. Além da ampliação da via, a obra inclui dois mergulhões, quatro viadutos, uma passagem inferior e a urbanização da área adjacente. A TransCarioca visa atender a cerca de 350 mil passageiros por dia. A via passará pelos bairros da Barra da Tijuca, Jacarepaguá, Curicica, Taquara, Tanque, Praça Seca, Campinho, Madureira, Vaz Lobo, Vicente de Carvalho, Vila da Penha e Penha. A proposta é que ao longo da via sejam instaladas 36 estações e dois terminais para embarque e desembarque de passageiros. Seu custo está estimado em pouco mais de R$ 700 milhões e a previsão é de que a obra dure três anos.

TransOlímpica: Recreio dos Bandeirantes/Deodoro. O projeto prevê a construção de uma via que ligará a Barra da Tijuca à Deodoro, dois bairros da Zona Oeste que deverão abrigar grande número de complexos esportivos. A proposta é que essa via atravesse seis bairros e tenha 26 km de extensão, com três faixas para veículos em cada sentido e uma faixa central exclusiva para o sistema de BRT em cada sentido.

Fortalecendo o Rodoviarismo

É inquestionável a necessidade de aumento das condições de trafegabilidade pela Cidade do Rio de Janeiro. Não é preciso ser um estudioso do assunto para chegar a essa conclusão, basta tentar circular por suas ruas e avenidas. E como somos um dos principais produtores e consumidores de automóveis no mundo, essa necessidade tende a se expandir. E não há como desvincular o aumento dessas demandas por mais espaço, das políticas de estímulo à produção e aquisição de automóveis, como a promovida pelo Governo Federal recentemente com a redução do IPI dos carros novos.

A Cidade do Rio tem uma população atual de mais de 6 milhões de habitantes e sofre influência de uma outra expressiva população que trabalha, produz e vive grande parte de sua vida na Capital, mas possui moradia em cidades periféricas. Essas pessoas estão circulando diariamente com dificuldades entre suas casas e o trabalho, a escola e o lazer. Com a perspectiva de realização dos grandes eventos programados para a Cidade, essa questão tem que ser equacionada. E como a proposta não é de solução pontual apenas para o período dos eventos, ela visa atender às necessidades da população atual – com as necessárias projeções futuras de demanda. Portanto, como serão intervenções de alto custo financeiro e que impactarão a Cidade por várias gerações, esses projetos devem estar sintonizados com os princípios, as diretrizes e os instrumentos de planejamento existentes.

Um dos maiores problemas enfrentados na elaboração e implantação de políticas públicas para transportes no Rio de Janeiro é que essas políticas são estabelecidas sob o comando dos próprios concessionários – que estão preocupados com a manutenção de suas vantagens nas margens de lucro que a atividade proporciona. Com isso, temos políticas que apostam no sistema rodoviarista, em detrimento de investimentos em transportes sob trilhos ou hidroviários.

O professor do programa de Engenharia de Transportes da Coppe/UFRJ, Fernando McDowell, em matéria publicada na Revista do CREA/RJ, manifestou opinião de que a infraestrutura de transportes da Cidade do Rio ainda está longe de ser a ideal:

“Eu acredito que a solução para a mobilidade está na melhoria do transporte coletivo. Isso pode começar com os três corredores, mas tem que haver melhoria nos trens e metrô, para que atuem de forma integrada. Os ônibus também precisam ser mais eficientes. É preciso criar uma nova filosofia que privilegie o transporte público em detrimento do carro privado. Não como uma obrigação, mas pelo reconhecimento da qualidade dos transportes coletivos. A mobilidade só virá com a garantia de segurança na viagem a pé, com calçadas bem pavimentadas e sinalização horizontal eficiente, além de uma rede cicloviária conectando todos os sistemas de transporte. Com isso, teremos melhorias.”

Quanto ao Metrô, temos tido tímidos investimentos desde que foi inaugurado, em 1979. Se tivesse sido diferente, certamente sentiríamos os resultados na atualidade. Mas o que era para ser uma alternativa de qualidade, já está ficando abaixo das expectativas, dada a limitada capacidade de operar frente às demandas existentes. Apesar da existência dos projetos de expansão das linhas do Metrô, inclusive a que atravessaria a Baía de Guanabara rumo a Niterói, a construção de novas estações tem acontecido a passos extremamente lentos.

O que dizer, então, dos trens urbanos? Em meados da década de 1980 transportavam mais de 1 milhão de passageiros por dia. Às vésperas de sua privatização, em 1998, operava com capacidade de transportar 145 mil passageiros por dia, quase dez vezes menos. Hoje, segundo matéria da Revista VEJA , os trens do Rio circulam transportando cerca de 450 mil passageiros por dia, que se deslocam entre o Rio e outras 10 cidades da Região Metropolitana.

O transporte hidroviário também poderia ser uma importante alternativa para a população da cidade do Rio de Janeiro e de outras cidades da Região Metropolitana, como Duque de Caxias, Magé e São Gonçalo. Mas o exemplo das linhas já operadas para o transporte entre Rio e Niterói não tem sido promissor em qualidade e benefícios, eis que a concessão parece toda desenhada para atender prioritariamente aos interesses do concessionário, deixando a população a ver navios... ou melhor, em barcas à deriva.

Amanhã vou falar dos projetos para a Cidade do Rio e os impactos socioambientais.

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