quinta-feira, 20 de junho de 2013

O Movimento Acabou? Pra mim, não. Agora eu quero Plebiscito!

Manifestação em Brasília, em foto extraída da funpage Geração Invencível.

Não parei de pensar sobre nossas manifestações! Entre minha ida e volta a Paraty para uma reunião do Conselho Gestor da APA de Cairuçu, nesta quarta-feira, tomei contato com algumas poucas informações sobre novos protestos e pude ler alguns gentis e emocionados comentários do texto anterior. Pois bem, quando parei numa lanchonete da BR 101 no caminho de volta, tive a oportunidade de ver a manifestação de Niterói, o fechamento das duas faixas da Ponte Rio-Niterói e algumas outras mobilizações - como uma em São Paulo que teve seu início às 8hs da manhã. É, isso mesmo... saíram em passeata pela Avenida M Boi Mirim às 8 horas da manhã. Alguém já viu disso antes?

Mas o que mais me surpreendeu foi assistir ao Haddad reunido com o Alckmin para anunciar o cancelamento do aumento das passagens, dizendo em coro que isso poderia significar cortes na saúde e na educação. Não foi mágica a cena dos governantes do PT e PSDB juntos, com o rabo entre as pernas? Eles já estavam juntos condenando o movimento e defendendo o uso das forças de repressão contra ele - com respaldo do Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que oferecia a Força Nacional de Segurança para apoiar a repressão. Depois, estiveram juntos no jeito categórico de afirmar que era impossível abaixar as tarifas. E hoje, vejam só, mansinhos, mansinhos...

Mas a cara de pau não muda! Ora bolas, pro inferno com essa história de que vai ter que tirar da saúde e da educação pra dar pra esses inescrupulosos que transportam a população como boi, como sardinha. E ainda tem a indecência de jogar a culpa na população, tipo dizendo: "Taí, queriam desconto de ônibus, então vou deixar mais gente ainda morrer nos hospitais e mais analfabeto perambulando pelos sinais". Se vocês quiserem saber a opinião da massa de onde tirar, eu pelo menos sei dar umas dicas: extingue umas secretarias e uns cargos comissionados, acho que já dá pra chegar lá. Fica no zero a zero. Mas se eu acreditasse que eles estão lá pra governar pra população, eu sugeriria: faz uma auditoria no sistema de transportes. Eles não podem estar tão apertados de grana assim, haja vista que são os maiores financiadores de campanha e um dos maiores premiados com isenção de impostos. Aqui no Rio, por exemplo, eles tiveram um grande sinal de generosidade da Câmara Municipal há uns três anos atrás: tiveram uma redução que jogou para 0,001 o ISS sobre os ônibus da Cidade. Foi muito antes desse último aumento das tarifas. Já o nosso Imposto de Renda, nunca vi baixar assim.

Foto retirada da funpage Geração Invencível
Aqui no Rio também vi o prefeito sorriso anunciar o cancelamento do aumento abusivo. E o Cabral mandou avisar que vai lá também... Vai baixar barcas, trens e metrôs. Quer dizer, metrô - porque aqui a gente tem só um linhão com uma divisória. O Cabral eu acho que nem quis ir anunciar, porque foi tão ridícula a fala dele na semana passada que ele deve ter tido o bom senso de dar um tempinho. Lembram que ele falou que as manifestações pareciam ter motivações políticas e que não eram espontâneas. Talvez ele pense que as motivações devam ser apenas econômicas - como foram na passeata chapa branca que ele convocou para manter os royalties, e que espontaneidade seja como o encerramento do expediente dos servidores do Estado para que possam caminhar com ele pela Rio Branco. E o Paes, que ontem disse estar disposto a ouvir as reivindicações dos manifestantes em audiência com ele, tomou pito das lideranças: - "Peraí, Sr. Prefeito! O senhor não ouviu o que foi dito em alto e bom som???" Deveria ouvir tudo que foi falado, as propostas e os adjetivos que o povo atribuiu a ele. Bem, resolveu revogar o aumento também.

Agora, os Movimentos vão parar!

Será que eles esperam que as manifestações parem agora? Queriam reduzir as passagens, pronto. Está aí. Agora, se despeçam e voltem cada um pra sua casa. A brincadeira acabou e vamos continuar a governar nossas cidades e estados e esse nosso Brasil varonil. Será que pensam isso?

Eu acho que não pensam, mas querem. Desejam muito isso e já começaram a se articular para diminuir as mobilizações. Primeiro sinal notório: até antes dessa onda de manifestações, a polarização política no país se mantinha com o PT e PSDB. Eles dominam dois blocos hegemônicos que ocupam e disputam o comando do país há 20 anos, emergidos exatamente após o Impeachment do Collor. De lá pra cá dividiram o poder e mantiveram intactos os processos de crescimento e acumulação do capital no Brasil, numa economia de mercado com algumas variações nas políticas sociais, mas com o mesmo sistema político institucional. Depois desses 20 anos, temos como aliados o Lula, o Collor, Sarney, Renan Calheiros... O Lindberg às gargalhadas com o Collor... dentre outras cenas impensadas há duas décadas.

Mas hoje, não. Hoje foi o PT com o PSDB. Se uniram porque sabem que a crescimento dessa onda ameaça seus domínios sobre as estruturas de governo. Superaram suas divergências e estão unidos para derrotar as mobilizações do Outono Brasileiro! Estamos no Outono?

Outro ator importante do poder que já construiu sua estratégia para esvaziar as mobilizações foi a Rede Globo. Quando ela chamava os manifestantes de vândalos e baderneiros, tentava estampar esse rótulo para desmobilizar a sociedade, para que as pessoas de bem não se enxergassem como parte daquilo. É uma sutil forma de manipular a subjetividade social, através da rotulação e da desfiguração. Algo que não produzisse identidades entre os trabalhadores e cidadãos deste novo milênio. Não conseguiu! A indignação e a consciência de quem vem sendo enganado pelas grandes campanhas de marketing, poderosas propagandas vendendo modos de viver e variados merchandisings, foi mais forte. Então, agora a estratégia é outra. É dar cara, nome e CNPJ para o movimento.

A estudante Mayara Vivian, em foto extraída do site G1.
Escolheram a jovem Mayara Vivian, de São Paulo. Pelo pouco que vi, passou boa impressão. É articulada, inteligente e se expressa bem. Todas as qualidades de um bom líder. Então, acho que pode cumprir um bom papel. Mas como todo ser humano, a Mayara é falível, como cada um de nós individualmente. Ela tem ideias próprias, tem propostas próprias e tem sua forma de ver as coisas. Que pode ser parecida, mas não é a mesma que a minha. E aí já estou começando a encontrar leituras rotulando a Mayara, dizendo que já viram isso, que ela é uma nova anarquista utópica - contaminada por velhas ideias que não levarão a nada. Aí, cada um de nós vai olhar pra ela e pensar: - "Bem, não concordo com tudo que essa menina fala". E daí pra esvaziar as mobilizações, é um passo. É claro, porque a gente vai pras ruas e na hora de falar, vai lá e entrevistam a Mayara... Bem, eu gostei de ver a Mayara, mas eu não quero que ela fale por mim. Esse é o modelo que está aí: um monte de vagabundo dizendo que fala em nome do povo. Que povo, cara pálida?

Esse é o meio mais eficiente de acabar com o Outono Brasileiro - como alguns usam para comparar com a Primavera Árabe. A personalização das manifestações vai contagiá-la e fazê-la perder força. Eles temem isso que está sendo assim, sem porta-vozes, sem representantes, sem pautas... As pessoas querem reclamar, porra! Mas não é só isso. E por não ser só isso que eles precisam acabar com tudo rápido. Por essa causa, PT e PSDB se unem, Cabral e Paes abaixam suas arrogâncias olímpicas e seus acordos com a máfia do transporte. Eles apostarão todas as fichas nisso. Senão, imagina na Copa?

Democracia e Enganação

Bom, o discurso oficial agora será de que atenderam ao pleito do movimento. Afinal, não é por 20 centavos, mas foram eles que tilintaram nas nossas consciências. O que nos une agora, as propostas da Mayara, do PSOL e do PSTU, ou aquelas milhares de outras escritas por cada um de nós nos cartazes que levamos pras ruas??? Eis a questão, de onde vai brotar essa resposta?

De várias formas elas já estão nas redes, como comentei no artigo anterior. Assinamos essas propostas o tempo todo e sempre trazemos mais. Estamos aprendendo a construir agendas, movimentos e ideias de forma remota. Cada qual com seu canal! Foi assim que surgiu esse movimento.

Bem, mas como fica isso, vão perguntar. Eu não sei ao certo, mas sei que vou continuar a ir pras ruas. Eu tenho motivos de sobra e sempre que convocarem, estarei lá prestando minha contribuição às causas. Mas e os agentes do Estado Democrático de Direito? Os vereadores, deputados, senadores, prefeitos, governadores, os juízes e desembargadores... Como esses detentores do poder podem recepcionar as causas do movimento? É certo que vários irão agora procurar a Mayara para saberem o que a gente quer. Bem, a Mayara é preparada e sabe o que ela e o grupo que ela lidera querem. Mas eu não cheguei a falar pra ela o que eu quero e pelo que eu luto. E eu sou desse movimento. Eu e um montão! Como a gente faz, então?

Eu pensei nisso. E eu tive uma luz. Não é pra iluminar ninguém, mas clareou minhas ideias. Eu não quero essa democracia de merda - que a gente dá carta branca pra outros falarem por nós. Eu tô fora! Eu quero participar diretamente e se não tiverem meios, eu fico gritando nas ruas. Eu quero é que minha voz seja escutada. Não quero sobressair, mas quero ser ouvido. E eu não acredito mais nesses processos tradicionais - que a gente tem que ficar falando com máquinas no telefone pra poder sugerir, reclamar ou se informar. Máquina é o escambau. Ou sou gente, quero dialogar com gente.

Então, vou dizer: eu quero Plebiscitos! Não quero só um, não. Eu quero vários plebiscitos. Eu não quero mais delegar assuntos tão estratégicos do meu País para essa canalhada que se mancomunou nas estruturas de poder. Eu quero discutir e votar o sistema de concessões de transportes da minha cidade. Eu quero discutir e votar as grandes obras estratégicas na minha cidade. Eu quero discutir e votar sobre as regras de proteção das florestas brasileiras. Quero discutir e votar sobre a Legalização da Maconha, sobre a regulamentação do aborto. Eu cansei de assistir desolado o Congresso Nacional promover as maiores vergonhas nacionais e votar assuntos que refletem na minha vida, no meu trabalho e na minha felicidade sem considerar absolutamente nada do que eu penso. Agora, eu quero votar também. Eu quero Plebiscito!!!

Eu quero Recall nas eleições para os Executivos. Eu abro mão de votar em candidatos de dois em dois anos. Isso já tá enchendo. Bota tudo no mesmo ano e nos outros três anos, vamos encher de plebiscitos. Mas não com voto obrigatório. Vai votar quem quiser, quem não fizer questão, assiste ao Faustão. É capaz que digam que isso é caro, que teriam que tirar dinheiro da saúde e educação. Tudo bem. Eu penso que pode acabar com o Senado. Pra que serve o Senado? Ah, é que nosso sistema é bicameral e coisa e tal. Tá bom, eu abro mão do bicameral. Deixa lá só a Câmara dos Deputados. Mas por mim, pode diminuir os atuais 513 deputados para uns 300. Esse número já é bem representativo. Afinal, está provado nos parlamentos de todo o Brasil que quantidade não tem absolutamente nenhuma ligação com qualidade.

Então, vamos lá. Segundo o Transparência Brasil, cada senador custa anualmente R$ 33 milhões. Como são  81 cadeiras, esse valor total é de R$ 2,7 bilhões anuais. De acordo com a mesma fonte, um deputado federal custa R$ 6,6 milhões/anos. Se cortarmos 213, teremos uma economia anual média de R$ 1,4 bilhões. Ao todo, só essa mexidinha geraria economia anual de mais de R$ 4 bilhões. Usa-se uma parte para gastar com plebiscitos e o excesso para melhorar a saúde e a educação!

Bom, eu sei que isso é utopia! Mas eu acredito que é um bom caminho, porque eu também sei que o Senado não fará falta nenhuma pra mim. Se fizer pra alguém, eu respeito a opinião. Mas a minha é que o Senado não faz falta e que os 213 deputados também não diminuirão minha representatividade na Câmara Federal. Eu quero mudar essa velha República, eu quero um novo país. E quem não chegou a pensar que era utopia baixarem as passagens? E baixaram muito rápido, pras coisas se acalmarem. Mas eu não acalmei.

O Plebiscito existe na Constituição Federal, mas a canalhada do poder não quer usar. Eles agora fingem que reconhecem o movimento, que atendem suas reivindicações, que legitimam suas lideranças, mas eles estão entregando apenas os anéis, pra manter seus grandes e musculosos dedos na condução dos tortos e tortuosos rumos das nossas cidades, estados, do País, do nosso dinheiro e das nossas vidas!

E eu, não quero mais isso. Eu quero é mais!  



14 comentários:

  1. Mesmo sem querer. Você falou por mim. E agora?

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    1. Olá, Adriano!
      Curiosa sua indagação!
      Eu tento interpretar e compartilhar os processos políticos e ecológicos que vivenciamos, pra contribuir com as mudanças que avalio como necessárias. Esse movimento serve para construir identidades. Pelo visto, temos essa identidade.
      Então, vamos prosseguir compartilhando-as!!!
      Um fraterno abraço,

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  2. Pois é... estou contigo! Plebiscito já!
    Faço das palavras do Adriano as minhas: Você falou por mim, falou o que eu queria ouvir. E agora?
    Confesso que sempre tive a "alma tíbia" e procurei não opinar (politicamente falando), o sistema sempre me enojou e nunca consegui enxergar uma luz no fim do túnel, mas todo este movimento mudou muita coisa dentro de mim, passei a desejar fazer a minha parte e colaborar.
    Vambora pra rua! Agora não dá mais pra parar!
    Parabéns pelo belo texto e obrigada por ajudar a me fazer acordar e acreditar que É POSSÍVEL SIM!

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    1. Oi, prima!
      Respondi ao Adriano e transmito a você as mesmas palavras que dirigi a ele. Temos uma história juntos em família, mas temos como construir uma nova história juntos para nosso país!
      É isso, eu acho.
      Vamos juntos!
      Um beijo,

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  3. Roger estou nessa também. DIMINUIR a PASSAGEM é POUCO. VAMOS MUDAR ESTE PAÍS. O POVO TEM PODER PARA MUITO MAIS!!!! EU QUERO MAIS: SAÚDE, EDUCAÇÃO E JUSTIÇA!!!!!

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    1. É isso, Júlia!
      Vamos ampliar as lutas, mas acredito que as coisas só vão mudar de alguma forma com uma profunda reforma política, para o fortalecimento dos sistemas de participação direta, para que nosso controle sobre investimentos públicos seja efetivo. Com isso, podemos melhorar a saúde, educação, justiça e algo mais!
      Um beijo,

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  4. É isso aí. A idéia dos plebiscitos me parece um caminho razoável! Parabéns pelo texto, ele exprime exatamente o que penso! Vamos divulgar essa ideia.

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    1. Obrigado, Carla!
      Os plebiscitos realmente me parecem o caminho viável e imediato para uma participação direta e efetiva. Mas penso ser extremamente necessária também uma reforma política - que só acontece se for vontade da população. Porque quem tá lá, não quer mexer.
      Vamos difundir essas ideias e, quem sabe, chegamos lá.
      Saudações,

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  5. Acredito que deveríamos propor um grande congresso com representatividade de varias áreas e cores.
    As universidades estaduais e federais , novos pensadores da Economia,Administração... que fosse realizado pela TV ( existem varias em Brasília) com o Brasil todo participando.
    Um Big repensando o Brasil.
    Temos muita criatividade.
    Teu pensamento é ótimo mas precisa de Ciências Economicas, sociais...
    E os plebiscitos poderiam ajudar nas grandes decisões.
    Sim !
    muita felicidade esta sacudida mas muito cuidado com espertalhões manipuladores...

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    1. Oi, Silvia!
      Você tem toda razão. Um processo como esse seria muito instrutivo e eficaz. Porém, essas estruturas estão sob controle de elites que dominam os processos de comunicação. Então, não creio que eles tenham os mesmos motivos que nós!
      E realmente temos que ter muito cuidado!
      Mas persistência também.
      Um beijo,

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  6. Rocco, que texto inspirado e inspirador! Gostei da ideia dos plebiscitos; ontem eu postei no meu perfil do fb uma outra proposta, mais "meio-termo", mas não excludente. Que continue a luta! Abraços, Juliana

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    1. Obrigado, Juliana!
      É esse o caminho, persistir nas lutas, aproveitando as oportunidades que temos com as tecnologias atuais.
      Outro abraço pra você,

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  7. Boa reflexão, proposta pertinente, o momento é para isso, refletir sobre os fatos e propor, fazer o debate acontecer, dar voz a todos e construir opções para sairmos deste embroglio das cartas marcadas que se tornou a democracia representativa, aqui e no mundo.

    Quanto a continuar nas ruas, hoje, sexta feira, após os profissionais do quebra-quebra terem tomado conta dos espaços contando com o foco das mídias interessadas neste olhar, penso que é necessário um passo atrás, para que o próximo passo seja mais capaz de vocalizar os anseios da sociedade.

    Abração

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  8. falou por mim também, não é de hoje que o sistema representativo atual vive em plena entropia, voltado pra dentro e armengando sempre que pode para que se perpetuem no poder.

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