A economia do ciclo do café levou com ela parte expressiva da Mata Atlântica brasileira, que atualmente possui cerca de 8% do que foi sua cobertura florestal original. Mas já há muito tempo que as consequências do investimento em monoculturas revelam sua capacidade transformadora sobre os ambientes naturais.
No Rio de Janeiro, Capital do Império, o café consumiu as matas da Tijuca, esgotando a produção de água da cidade. Com isso, o que era um aqueduto sobre grandes arcos que trazia esse precioso líquido para a nobreza e a plebe, transformou-se em via do bonde de Santa Teresa – levando mais charme para os Arcos da Lapa.
O engenheiro André Rebouças aconselhou, então, o Imperador para que buscasse água nas fazendas do Tinguá, onde havia em quantidade. E assim se fez, a fim de superar o esgotamento provocado pelo café. Mas D. Pedro II não ficou satisfeito e determinou a desapropriação das fazendas de café da Tijuca, para que fossem reflorestadas com espécies nativas, a fim de restabelecer o ecossistema ali existente.
O início de reflorestamento se deu há exatos 150 anos, com o ato de criação das Florestas Protetoras da Tijuca e das Paineiras. Teve à frente do processo o Major Archer, o Tomás da Gama e o Barão de Escragnolle, com seus grupos de escravos, sob o comando do Imperador D. Pedro II. À época, o Imperador era aconselhado também por José Bonifácio de Andrada – que fazia severas críticas ao uso do fogo na agricultura e às monoculturas de qualquer gênero. Precisamente 100 anos depois, já sob a égide do Sistema Republicano, o Presidente Jânio Quadros baixava decreto criando o Parque Nacional do Rio de Janeiro, transformado pouco tempo depois em Parque Nacional da Tijuca.
Oficialmente, o primeiro parque nacional criado no mundo foi o de Yellowstone, em 1872, nos EUA. Mas a Floresta Protetora da Tijuca nasceu em 1861. Muitos mitos ainda envolvem o Parque Nacional da Tijuca, como o de que seria o maior parque urbano do mundo – que cai em terra se comparado apenas ao seu vizinho -, o Parque Estadual da Pedra Branca.
Mas nesse aniversário de 50 anos de criação e 150 anos de reflorestamento, comemorados em 2011 - no Ano Internacional das Florestas, podemos afirmar que o Parque Nacional da Tijuca é a experiência mais antiga e bem sucedida de recuperação de área degradada pela ação humana e de conservação no mundo. E que é possível restabelecer os serviços ambientais prestados pela floresta, assim como reencontrar suas vocações de acolhimento e contemplação.
Em tempos de mudanças climáticas e ameaças ao Código Florestal, esse é o legado que o Brasil tem que se apegar e difundir para o mundo.
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