Primeiras reflexões desde o diagnóstico de câncer no rim
Há cerca de um mês fui diagnosticado com um câncer no meu rim direito e resolvi vir aqui refletir um pouco sobre essa minha nova realidade!
Não sei muito bem como começar e estranho o fato de utilizar esse meu blog para um assunto de ordem pessoal, já que a proposta dessa rede foi de trazer eventualmente temas e assuntos ligados às pautas do meio ambiente, do direito ambiental e da cidadania socioambiental, o que, aliás, já não faço por aqui desde 2023.
O fato é que atualmente exerço pela segunda vez as funções de Superintendente do IBAMA/RJ, o que exige dedicação integral de tempo e de preocupações, limitando de forma significativa minha capacidade de dedicação aos assuntos de ordem pessoal - que vão sendo adiados para tempos futuros geralmente imprevisíveis.
Porém, agora preciso tomar decisões para mudanças de rumo na minha vida. E algumas dessas decisões afetam e afetarão meu desempenho profissional e o tempo de dedicação para a gestão da Superintendência do IBAMA no Rio de Janeiro, assim como alguns hábitos e costumes de vida.
Mas vamos ao começo das coisas.
A partir da realização de exames de rotina, foi encontrado um tumor no meu rim direito. Desde 2010 adotei a rotina de realização de exames anuais de saúde, como indicado pela medicina aos que entram na fase dos 40'! Na pandemia ainda realizei uma última bateria de exames, lá em 2021, e depois deixei de fazer nos três anos que se seguiram. Em 2025, resolvi voltar a monitorar minha saúde, sem que qualquer sintoma tenha me levado a isso.
Encontrei um novo médico em Niterói e fui! Na relação de exames, um que eu nunca havia feito: ultrassonografia do abdome total. E foi através desse exame que foi localizado o tumor. O médico informou que, também a partir dos 40 anos, é necessária a realização anual de referido exame.
A ultrassonografia de abdome total é um exame de imagem que permite avaliar diversos órgãos e estruturas na região abdominal, auxiliando no diagnóstico e monitoramento de diversas condições médicas. É um exame não invasivo, indolor e não utiliza radiação, o que o torna seguro para diversas faixas etárias e em diferentes situações clínicas.
Com quase 7cm de tamanho, o tumor ocupa boa parte do rim, que tem cerca de 12cm. O médico estimou que deve existir há cerca de 10 anos para ter atingido esse tamanho, mas não provocou sintomas no meu sistema renal, que funciona regularmente. A recomendação é para a realização de cirurgia para a extração do tumor e, eventualmente, do rim - o que só será passível de confirmação durante o procedimento. Não há indicação de químio ou de radioterapia para essas ocorrências no rim. Em paralelo, estamos fazendo os exames para investigar eventual ocorrência de metástase.
Um susto no meio de uma dor profunda de perda
Recebi o diagnóstico do câncer no dia 16 de maio. Eu estava devastado pela notícia do falecimento, no dia anterior, da minha amiga de uma vida - Lu Morales, minha irmã de alma, minha comadre - que me deu a honra de apadrinhar e amar sua filha, minha afilhada Nauara Morales. A Lu é daquelas pessoas especiais que encontramos e que seguem por anos a fio como amizades íntimas e cotidianas, mesmo quando passávamos tempos sem se falar: amizade, amor, cumplicidades... A Lu foi uma mulher que aprendeu a compreender a natureza humana na sua essência. Profissional da psicologia clínica, da psicanálise, era uma mulher extremamente preparada e disposta à escuta do outro, com uma visão generosa do mundo. Corajosa, afetuosa, sincera e amorosa, tinha dezenas de pacientes que seguiam com ela há anos. Ela me relatava que dava alta para os pacientes, mas que eles não largavam o tratamento. As sessões de terapia com a Lu eram verdadeiras lições de sentimentos bons, de filosofias profundas... quem queria deixá-la? Pelo contrário, tinha fila de espera.
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Em nossa última conversa, ela mandou essa foto de seu niver em 2017. |
Na pandemia, a Lu foi para o interior de Minas Gerais e por lá ficou até partir dessa vida durante o sono. Dormiu e não acordou mais! Até na partida ela foi suave. Mas não fui visitá-la durante esse tempo, apesar dos convites.
Não tive tempo para abraçar minha amiga, de conhecer sua nova moradia em Silvinópolis, de contar pra ela minhas histórias - ela gostava de escutar minhas histórias, e de escutar e aprender com suas conversas sempre recheadas de profundo conhecimento filosófico. Não tive tempo! O que foi que eu fiz com meu tempo que não dediquei um final de semana sequer pra estar com ela? E, no momento em que amigos e familiares se despediam e velavam seu corpo, mais uma vez não pude ir. Mas dessa vez por um justo motivo: era o dia da consulta com o urologista que me daria a notícia do tumor no meu rim. Ainda tentei trabalhar. Fui ao IBAMA, mas não tive a menor condição de trabalhar naquele dia. Arrumei as coisas e voltei pra casa pra me enclausurar!
No dia seguinte ao diagnóstico tinha viagem marcada para o Ceará, onde participei do Congresso da Associação Brasileira de Professores de Direito Ambiental - APRODAB, da qual sou membro. Aproveitei para ir no final de semana que antecedia o congresso com minha companheira Adriana e fizemos um pequeno passeio à Canoa Quebrada. Foram três dias tomando sol na praia, escutando um reggae no Freedom Bar e me acostumando à nova condição que a vida me impôs.
Eu preciso me cuidar!
A notícia sobre um câncer é desoladora! Pensamos logo no porquê acontecer com a gente! E como esse diagnóstico irá transformar nossa realidade. Eu aprendi um pouco desse processo recentemente, no meio da pandemia, com minha ex-companheira e mãe do meu filho - Andréia. Diagnosticada com câncer de mama em 2020, passou por muitos desafios não só pela doença, mas por sua ocorrência no auge da pandemia que levou milhares de vidas em todo o mundo, por todos os lados. Assim que ela teve o diagnóstico, recomendei que ela desse publicidade para ganhar o tempo que precisava para o tratamento e para receber a solidariedade dos amigos e familiares. Agora que aconteceu comigo é que vejo como é difícil vir aqui contar, sem saber como começar, sem ser tomado por sentimentos piegas ou vitimistas e sem saber com convicção o que realmente eu quero dizer por aqui.
Mas a Andréia soube expressar sentimentos lindos e escrever textos poéticos que revelam um lado bom desses momentos. E sim, têm lados positivos em tudo, até mesmo nas enfermidades. Recomendo que consultem o blog que ela montou: http://partilhar74.webnode.page/ .
Em primeiro lugar, avisei a família. Em seguida, os servidores do IBAMA/RJ e amigos mais próximos. E agora venho aqui em público. A questão é que eu preciso que saibam que entrei numa rotina longa de exames, consultas e procedimentos preparatórios para a realização da cirurgia, que ainda não tem data para ocorrer, mas que estimo que será em agosto. Com esse processo, tenho tido menos disponibilidade para agendas, eventos, reuniões e respostas em redes sociais, especialmente o whatsapp - através do qual muitas solicitações relacionadas a trabalho. Então, compreendam se eu não respondi mensagens, emails e outras tentativas de comunicação.
Eu preciso agradecer!
Só com as primeiras comunicações, já recebi uma corrente de rezas, orações, mandingas e outras formas de energia positiva para minha cura. Recomendações de cirurgias espirituais, reikis, passes presenciais e à distância. Pessoas das mais variadas relações sensibilizadas e motivadas a ajudar a me conduzir na direção da cura têm aparecido e me acolhido.
É incrível como o desejo do bem alheio resiste às fortes correntes de ódio que se proliferaram nos últimos anos. É um movimento lindo, que nos faz enxergar esperança na humanidade. Uma amiga de turma da UFF da Adriana, por exemplo, trouxe seus sogros para fazerem um passe espiritual. Eu aceitei. E eles vieram de Magé até nossa casa pra rezar por mim, iniciando um ciclo que terá mais três encontros! Eles não me conheciam, eu não os conhecia. Mesmo assim, saíram de sua casa e vieram apenas para promover o bem, sem ganhar nada senão um sorriso, um abraço e a perspectiva de levar a cura! O Amor continua vencendo o ódio!
O Amor é o lado positivo de tudo, mesmo daquilo de pior que nos afeta. Porque nesses momentos nós encontramos braços que querem nos abraçar. Diante de uma doença que está associada à morte, encontramos uma potente fonte de vida!
Eu quero, então, agradecer a minha família, a minha companheira, aos meus amigos e amigas, aos que estão ao meu lado nos desafios diários do IBAMA e aos que estão chegando agora pra ajudar, trazer luz, alegria, sorrisos e afetos para que eu passe por esse desafio, restabeleça minha saúde e retome minha vida sob novas perspectivas.
Minhas recomendações!
Vivam a vida intensamente. Visitem os amigos, as amigas... eles são o que temos de melhor. Não nos foram colocados por ninguém, são nossas próprias escolhas que lhes deram a condição de compartilhar nossas vidas. O tempo sempre existe, nós somos os senhores e senhoras do nosso tempo!
Façam exames periódicos. A medicina está bastante e cada vez mais avançada, permitindo diagnósticos precoces que indicam excelentes condições de tratamento do que quer que seja! Sem têm mais de 40 anos, sigam a dica do meu médico e peçam uma ultra do abdome total. Lá estão nossos órgãos essenciais. E defendam o SUS, ele é uma política pública brasileira e muito bem sucedido para a promoção da saúde preventiva, para a promoção da vacinação, mas também para a medicina curativa e para atendimento de emergências.
Eu vou fazer a cirurgia na medicina dos homens. Mas também comecei os procedimentos para a cirurgia espiritual e estou reprogramando hábitos e rotinas, porque a essência da vida é fazer aquilo que nos deixa felizes!
E eu escolhi ser feliz!