quinta-feira, 12 de maio de 2011

O Aldo e o Neo-Comunismo

Eu sempre fui um admirador dos partidos comunistas brasileiros, mesmo sem nunca ter lido O Capital ou as suas propostas programáticas. Sempre achei que as lutas dos comunistas estavam associadas à defesa das liberdades, ao combate à ditadura e à proteção aos trabalhadores.

Mas a postura do Dep. Aldo Rebelo na relatoria do projeto do novo Código Florestal nos conduz a uma necessária reflexão: afinal, a que se presta o Partido Comunista do Brasil na atualidade?

Parte do meu aprendizado sobre a “má política” me foi apresentada logo cedo, quando comecei a fazer política no movimento estudantil secundarista. Lá eu vi o PCdoB fazer manipulação, cooptação, manobras ardilosas para ganhar e se perpetuar na direção das entidades estudantis. E nisso, sei que agiram com competência, afinal há mais de 20 anos comandam as principais organizações estudantis brasileiras, inclusive a UNE... quer dizer, a NeoUNE – aquela que não faz mais enfrentamentos ou manifestações porque anda ocupada na administração dos projetos financiados pelo Governo Federal.

Na política eleitoral tive uma grande surpresa quando o PCdoB se alinhou com o antigo PDS, ou o PFL, não me recordo bem, para eleger o Moreira Franco Governador do Rio, numa eleição que tinha o Darcy Ribeiro candidato pelo PDT e o Gabeira pelo PT-PV, em 1986. Minha surpresa era em ver o PCdoB alinhado com a direita, com aquilo que representava um atraso para o estado. Um enigma que nunca decifrei!!!

Na seara da política energética, o PCdoB é partidário da energia suja das usinas nucleares e das termelétricas a gás e carvão. Não sei se isso é uma visão dogmática do desenvolvimento, construída à época da Revolução Soviética, e que não tenha sido atualizada por pobreza de espírito, ou se é mais uma estratégia para ocupar cargos da Viúva – como diria Elio Gaspari. Afinal, o PCdoB ocupou cargos na direção de termelétricas do Governo Federal.

Mas na discussão do Código Florestal, o PCdoB se superou. Aliou-se ao mais arcaico capitalismo rural que, além de destruir deliberadamente o equilíbrio ecológico do campo – afetando um direito de toda a sociedade - é o mesmo que promove o trabalho escravo, que consolida os latifúndios e que dissemina a violência no campo.

Aldo Rebelo transformou-se no grande líder dos ruralistas, adorado e respeitado pelo Caiado, pela Kátia Abreu, pelo Blairo Maggi e por uma legião de capitalistas-ruralistas do DEM, do PP e de outras tantas dessas siglas disformes.

Aldo é um travesti político – com todo respeito aos que fizeram opção por esse gênero comportamental. Mas, de fato, não é comum um comunista se transformar no líder daqueles que defendem que a proteção ambiental é uma imposição de estrangeiros interessados em barrar o crescimento econômico do Brasil... uma grande artimanha internacional contra o povo brasileiro!?!?

Eu assisti hoje na TV ao presidente de uma confederação nacional ruralista, que não me lembro o nome, um sujeito que também é deputado, dizendo que o Brasil não pode sofrer essa ingerência alienígena, e que os EUA e a Europa já desmataram quase tudo, e que em nenhum outro lugar do mundo existe APP e Reserva Legal, que isso é um disparate, e que o Brasil tem que ter soberania para desmatar. Não foi exatamente com essas palavras, mas foi com essa intenção. Eu vi e ouvi!

Eles falam isso também quando organizações nacionais ou estrangeiras defendem os direitos humanos dos trabalhadores escravizados no campo... querem soberania nacional também para escravizar?

Mas não eram esses mesmos personagens que estavam ao lado da ditadura pregando a idéia de que o Comunismo era a grande ameaça ao Brasil, porque queria impor dogmas e doutrinas subversivas, dominar nossa economia e destruir a iniciativa privada tupiniquim? Não eram eles que pregavam que comunistas comiam criancinhas?

Então, o que o Aldo e o PCdoB fazem com eles agora? Eis aqui outro enigma que o PCdoB nos traz para decifrar...

Mas vamos lá... podem trazer as crianças de volta para a sala. O Aldo e o PCdoB não vão comê-las. Assim como grande parte dos que eles pregam, é mentirosa a idéia de que comunista come criancinhas.

Agora, que o Aldo mente muito, isso é verdade! Ele mente no relatório do Código Florestal e mentiu para os deputados quando fez o acordo sobre o projeto que levaria ao plenário e depois alterou o texto por conta própria – atendendo a sua clientela capitalista-ruralista.

Mas o Aldo magoou-se com o twitter da Marina. E como um traíra, que trai com a verdade, trai com o programa e a ideologia comunista, trai com seus pares deputados, se distraiu e traiu-se a si mesmo. E em seu discurso, acusou o marido da Marina de estar envolvido em esquemas ilícitos com o IBAMA! Não satisfeito com mais essa mentira, esse ataque desesperado a uma figura que expressa muito bem o conceito de ética e honestidade na política, concluiu dizendo que na ocasião – como líder do Governo – ele “abafou o caso”.

O Aldo quis dizer que a Marina não devia atacá-lo porque deveria um favor a ele ou, ainda, porque teria o rabo preso com ele!

Ora, a Marina divulgou que ele fraudou o projeto que seria votado. E ele fraudou mesmo! Foi o que disseram os líderes do PT e do Governo na Câmara, na reportagem que passou na TV. Eu vi e ouvi!

Mas para o comunista Aldo, o que importa é a lógica da pior política, é a lógica da troca de favores, de interesses e otras cositas más...

Esse talvez seja o Neo-Comunismo! Um sistema político disforme e despótico, que trabalha na lógica da ocupação e manutenção de cargos e estruturas, mesmo que ao preço de liderar movimentos de expansão do latifúndio e do velho e arcaico capitalismo rural.

Mas não pensemos que isso seja um papel meramente subserviente. Não é não! Isso é projeto e postura política, expresso em diversos níveis dos parlamentos e dos poderes executivos.

Os neo-comunistas se aliaram aos velhos capitalistas-ruralistas numa caminhada contra nossas florestas, nossos ecossistemas, contra a sociedade. Eles fazem mal ao Brasil, eles não estão nem aí para a vida no planeta. Eles só se preocupam com os resultados imediatos de seus lucros, custe o que custar!

E agora que o Aldo acusa o marido da Marina da prática de ilícitos e confessa ter trabalhado para acobertá-los, ele deveria trazer provas sobre a acusação que faz e assumir as conseqüências da confissão que fez em pleno Plenário da Câmara. Ou essa conduta não revela um comportamento aético no exercício do mandato?

Diante disso, não sobra legitimidade ou postura moral para que o novo Código Florestal – legislação fundamental para o presente e o futuro do Brasil – seja votado com base em relatório escrito por esse deputado.

Ou alguém confiaria comprar um carro usado desse deputado?

3 comentários:

  1. Rogério, além de carteira para estudante o que mais a UNE faz hoje?

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  2. Por que defender o latifúndio? Por que apoiar os setores mais retrógrados do ponto de vista ambiental? Quem se beneficia com estas alterações no código florestal? Os escravocratas? Os latifundiários? O Brasil já derrubou muita floresta. Não é mais concebível mudar o Código Florestal para aumentar desmatamento, principalmente neste momento em que vivemos uma preocupante crise climática. Chuvas torrenciais, secas, deslizamentos e mortes. Tudo isso tem a ver com o desequilíbrio ambiental que estamos legando ao país. Qualquer investida contra nossas florestas é um tiro no pé. Mesmo assim, as ameaças a elas não cessam.

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  3. O Código Florestal criado, basicamente para proteger nossas florestas nativas, organizar o setor produtivo à base de madeira e estimular o plantio de florestas preserva também as áreas ao longo dos rios, se manteve vivo até agora por conta da luta dos brasileiros que defendem o meio ambiente e a natureza, que é um bem estratégico do povo. Nunca foi respeitado pelos governos nem pelo agronegócio. Até agora, o setor ruralista age da seguinte forma: Ignora as determinações do Código Florestal para derrubar as florestas; quando são pegos com a motosserra na mão, culpam a rigidez da legislação em vigor e, por fim, mobilizam seus parlamentares para derrubar esses obstáculos. Sabe-se que os processos por crimes ambientais têm alto índice de prescrição e pouco de punibilidade e que, de tempos em tempos, poderá ser proposta uma renegociação de dívidas ou uma anistia a multas, por que deixar de desmatar? Apelar para a consciência moral daqueles que agem de má-fé como forma de pedagogia para reduzir o desmatamento está mais para piada de mau gosto, do que para uma proposta séria. Quem desmatou será beneficiado pelas alterações no Código Florestal.
    Para o pesquisador sênior do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), Paulo Barreto, a reforma do Código Florestal é um golpe forte e deixa a mensagem que vale a pena destruir. A ideia é validar o que já foi feito de forma ilegal, anistiar quem não cumpriu a lei, independentemente de ter ocorrido problema ambiental. O Dep. Aldo Rebelo deve honrar a historia de seu partido, mormente, em relação aos partidos que se dizem de esquerda e jamais poderiam fazer projetos totalmente dirigidos para os interesses pessoais de latifundiários, este deputado pertence a um honroso partido que sempre se posicionou ao lado da democracia e sempre presente nas lutas nos tempos da ditadura que ajudou a derrubar e protagonista de uma longa e respeitável carreira política. Porém, sua condição de relator de proposta de alteração do Código Florestal brasileiro o expôs a equívocos graves e lamentáveis e a idéia é que vale a pena destruir como no tempo do governo militar onde não existia preocupação com o meio ambiente (“Ocupar a qualquer custo para não entregar”)

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