quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Quem decidirá o segundo turno das eleições do Rio em 2016?

Eleitores de Pedro "Paulada", Índio e Osório serão decisivos na luta entre Crivella e Freixo para a vitória das eleições municipais deste ano, no Rio de Janeiro.





As eleições na Cidade do Rio de Janeiro vão para um segundo turno aparentemente atípico, com dois candidatos que representam projetos bastante distintos. Mas a atipicidade é marcante pelo fato de que os cariocas mandaram o PMDB às favas, apesar das Olimpíadas e todo o festival de obras pelo qual a cidade passa.
Pode-se atribuir essa derrota a Eduardo Paes, vitorioso nos dois pleitos anteriores. Não obstante o desgaste sofrido pelo PMDB com os inúmeros casos de corrupção, desde Lava-Jato e Mensalão, passando pelo superfaturamento das obras para Copa do Mundo e Olimpíadas no Rio de Janeiro, fato é que a imprensa tenta concentrar essas ocorrências exclusivamente na conta do PT - aliado de Paes e de Cabral até o barco começar a afundar. Mas arrisco apostar que o que foi mesmo decisivo para o insucesso do candidato de Paes, Pedro "Paulada", é sua mania de agredir a esposa. Essa, prefeito, a cidade não engoliu!

Diante da negligência do Parlamento, sociedade adota o voto facultativo
Mas interessa agora especular quanto à tendência do voto no segundo turno. Afinal, os dois candidatos que se apresentam têm perfis sujeitos a uma agressiva caricaturização, fator que tende a desqualificar o debate saudável de projetos e a afastar o eleitor indeciso, desinteressado, alheio aos rumos de sua cidade. As redes sociais são um termômetro que já aponta nessa direção.
A indiferença com o processo eleitoral tem sido constante e ascendente nos últimos anos. A sociedade que lutava pelo direito ao voto há trinta anos atrás, na atualidade está desmotivada para esse exercício de uma "cidadania vazia", fruto de um modelo político velho e senil, baseado numa delegação que tem representado objetivamente um cheque em branco entregue a uma classe política majoritariamente sem caráter, sem vergonha e sem escrúpulos em atuar na defesa de seus interesses privados e de grandes grupos econômicos.
E o pleito desse ano no Rio de Janeiro expressou bem o desinteresse: dos cerca de 4,9 milhões de eleitores da cidade, mais de 42% não fizeram nenhuma escolha de candidatos. Isso mesmo! Quase 2,4 milhões optaram por não participar da escolha do futuro prefeito da cidade. Nas eleições passadas, em 2012, esse percentual foi de 34%. Em 2008, foi de 30%. Ou seja, entre 2008 e 2012 houve aumento de 4%. Mas de 2012 a 2016, o aumento foi de quase 10%.

Eleições Municipais no Rio de Janeiro
Ano                           2008     2012     2016
Votos brancos             5%        5%       5,5%
Votos nulos                7,5%      9%        13%
Ausência                    18%      20%       24%
Total                         30,5%     34%      42,5%

O que o quadro aponta é uma tendência da sociedade em se ausentar dos processos eleitorais, que saturam o cenário social com sua repetição de dois em dois anos. O sistema político vende uma ideia de democracia, mas se materializa no voto obrigatório - uma forma de tutela de uma sociedade supostamente ignorante. Conforme aumenta a informação de que a ausência das eleições pode ser justificada, proporcionalmente aumenta a predisposição da ausência - que cresce na mesma dimensão do voto nulo, conforme verifica-se no quadro acima.

Voto Moderado decidirá o Segundo Turno
O resultado desse cenário, somado à grande quantidade de candidatos com potencial eleitoral, levou ao segundo turno dois candidatos com votações significativamente menores que das eleições anteriores. Crivella, primeiro colocado, obteve 842 mil votos, seguido de Freixo, com 553 mil. No primeiro turno de 2008, Paes obteve 1,05 milhão de votos e foi para o segundo turno com Gabeira, que obteve 840 mil votos. Em sua reeleição quatro anos depois, em 2012, com toda a máquina pública municipal, estadual e federal em torno da aliança PMDB-PT, Paes ganhou no primeiro turno com o dobro de votos da eleição anterior, 2,1 milhões, contra 914 mil de Freixo.
Ou seja, o último segundo turno na cidade se deu em 2008. Lembram que o Cabral, numa manobra ardilosa, antecipou o feriado para estimular a ausência da classe média na votação? Naquele ano a cidade foi partida em três: um terço com Paes, outro com Gabeira e o outro ausente/nulo/branco. Paes foi eleito com uma diferença de cerca de 55 mil votos, pouco mais de 1% dos eleitores da cidade. Ele obteve 1,696 milhão de votos e Gabeira 1,641 milhão.
O cenário do primeiro turno dessas eleições tende a ser intensificado no segundo turno, com um relativo aumento das abstenções dos eleitores que rejeitam tanto uma candidatura alinhada umbilicalmente à Igreja Universal, como outra candidatura que tem um perfil mais à esquerda, de um partido que tem pouca experiência executiva - mas larga e eficiente atuação de oposição. A aproximação do PSOL do que um dia foi o PT, num momento no qual o PT é descoberto com a boca na botija e sofre um ataque visceral pelo Partido da Mídia Golpista - como afirmado por Paulo Henrique Amorim, produz uma significativa rejeição ao seu candidato.
Arrisco estimar que no segundo turno teremos uma abstenção histórica no Rio de Janeiro, na ordem dos 50%. Caso esse quadro se materialize, a eleição será decidida por aproximadamente 2,45 milhões de eleitores. Portanto, ganhará o candidato que atingir pelo menos 50% mais um desses votos, ou seja, 1,25 milhão de votos.
Até aqui, é especulação misturada com matemática. Mas a partir daqui, o que se faz é uma análise de tendências majoritariamente especulativas. Mas não é tão distante da realidade concluir que os votos do Molon (43 mil) e da Jandira (101 mil) sejam agora direcionados para o Freixo. Isso representaria 697 mil votos. Mas se o Freixo teve 914 mil votos em 2012, nesse cenário polarizado, não é demais afirmar que ele tem grande potencial de reconquistar esses e mais alguns votos perdidos, chegando na ordem de 1 milhão de votos com certa segurança. Quanto ao Crivella, pode-se supor também que obtenha com tranquilidade os votos do Bolsonazzi (424 mil). Não por identidade com seu projeto, mas por ser a oposição mais ferrenha ao projeto representado por Freixo. Com isso, Crivella teria  1,266 milhão de votos.
Bem, por minha matemática, Crivella seria o vencedor do segundo turno. Ocorre que eleições até admitem a matemática, mas não se representam por ela. E outros fatores devem ser colocados no tabuleiro.

Crivella venceu no voto, mas também vence na rejeição
As pesquisas eleitorais do DataFolha trazem dados importantes com relação à rejeição dos eleitores em relação a cada candidato. Apesar do Pedro "Paulada" e seu mentor serem os maiores derrotados dessas eleições, a rejeição ao agressor de mulher na última pesquisa foi de 27%, perdendo para Crivella - que obteve 31%. Aliás, Crivella teve uma rejeição crescente, que iniciou com 22% em agosto e chegou a 31% em outubro. Com a polarização entre dois candidatos, é provável que esse percentual aumente já na primeira pesquisa de intenção de voto. A conferir!
Quanto a Freixo, sua rejeição foi decrescente, segundo as mesmas pesquisas: iniciou com 14% em agosto e terminou com 12% em outubro. Portanto, mesmo com uma tendência de crescimento, é muito provável que não se aproxime dos patamares já conquistados pelo rival Crivella.
Vale afirmar que, no quadro atual, quem decidirá o futuro gestor da cidade do Rio de Janeiro serão os eleitores de Pedro "Paulada" (488 mil), Índio (272 mil) e Osório (261 mil) que, somados, atingem o significativo número de 1,021 milhão de votos. Contando que é desse volume de eleitores que teremos o aumento nas abstenções, há que se considerar que é daí também que sairão os votos decisivos para a escolha entre Crivella e Freixo.
Portanto, o perfil do eleitor que decidirá as eleições está associado aos candidatos que levaram seus votos e que são candidatos "moderados" em suas ações e seus projetos. Tanto Crivella quanto Freixo, corretamente, já afirmaram a absoluta impossibilidade de aliança com o derrotado PMDB. Porém, devem buscar esses votos, que são quase meio milhão. No mais, precisam dialogar com os eleitores de Índio e Osório, seja compondo uma aliança partidária mais ampla, seja adotando alguns dos projetos e compromissos defendidos pelos candidatos.
Crivella tem maior possibilidade de aliança com o PSD de Índio e o PSDB de Osório, o que me parece mais improvável para o PSOL de Freixo. Nesse aspecto, Crivella obterá maior vantagem. Por outro lado, as imagens de Bispo Macedo e dos Garotinhos maculam seus largo espectro de alianças - incidindo num provável aumento da rejeição.
Quanto a Freixo, tem a chance de ampliar a base de apoio com a inserção do PT e PCdoB - com suas virtudes e defeitos -, assim como com a Rede de Marina, o PV de Gabeira, e outros pequenos partidos de centro esquerda. Aliás, o Gabeira pode ser o reforço necessário para a tentativa de resgate dos votos do segundo turno de 2008 que, como afirmado anteriormente, chegaram a expressivos 1,6 milhão.
A campanha para o segundo turno está apenas começando, mas merece nossa atenção por constituir-se de forma completamente distinta das eleições passadas. E, é claro, por significar o ato final para o modelo de cidade que queremos para os próximos quatro anos.
Enfim, foi dada a largada!  

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